O técnico em Telecomunicação Alessandro Miranda foi um dos últimos pacientes da Policlínica Metropolitana atendidos ainda pelo protocolo destinado somente à Covid-19, encerrado no fim da tarde desta terça (30). Da chegada à saída, já com a medicação receitada para o tratamento em casa, foram poucos minutos entre triagem e atendimento junto ao médico, sem qualquer espera. A partir da próxima quinta-feira, dia 2, o atendimento volta aos moldes originais.
“Nunca tinha vindo à Poli Metropolitana. Busquei por saber que foi referência para o atendimento da Covid-19 nesse período, e também porque estou com alguns sintomas e tive receio. Foi a primeira vez, e fui muito bem atendido", avaliou. Alessandro passou a fazer parte do grupo de mais de 44 mil pessoas que buscaram assistência ainda na fase inicial da doença nesses 71 dias em que a estrutura se voltou à atenção básica - consultas, exames e entrega de medicamentos - somente de pacientes com quadro respiratório leve ou moderado.
Alessandro Miranda atestou a qualidade do atendimento da Policlínica MetropolitanaDepois de um dia fechado para higienização e desinfecção, que serão feitas nesta quarta, dia 1º, o centro de diagnóstico de média complexidade retoma, no dia seguinte, a vocação original de oferecer exames em várias especialidades. O funcionamento volta a ser de segunda à sexta, das 7h às 19h, com pacientes encaminhados da rede pública, ou seja, a Policlínica não funciona como porta aberta, e sim como complemento das atividades médicas. Quem tinha procedimentos marcados à época do início da pandemia e teve o atendimento suspenso está sendo procurado para reagendamento.
A retomada das atividades da Policlínica não significa que novas suspeitas de coronavírus ficarão sem atendimento. No Hangar, onde também funciona o hospital de campanha da capital, está montada uma unidade móvel dedicada a receber esses pacientes.
Estratégia - Para quem esteve diariamente nesses mais de dois meses na linha de frente, principalmente no início, quando houve dias em que todos os espaços do prédio ficavam lotados de pacientes, fica a gratidão pelo investimento em uma metodologia que deu certo. "Saímos de um momento muito complicado, em que o sistema estava em colapso, com a população desesperada, sem ter para onde ir, e estabelecemos o foco de tratar o paciente precocemente e tranquilizá-lo. O que fica é a certeza do acerto pela escolha da estratégia do acolhimento, da humanização", diz a diretora executiva da Poli Metropolitana, Líliam Gomes.
O administrador Marco Antônio Guimarães sabe como é ficar sem ter para onde ir em busca de ajuda. Entre os dias 6 e 8 de maio, seu quadro clínico evoluiu rapidamente do mal estar para a perda do olfato e intensa falta de ar. O plano de saúde não adiantou, porque não havia mais vaga em nenhuma unidade. "Foi quando me indicaram a Policlínica, que estava cheia, mas eu sabia que ali eu seria avaliado. Foi demorado, eram centenas de pessoas, mas fui bem atendido. Com a tomografia a médica viu um pequeno comprometimento no pulmão, mas nada grave. Fui medicado, fiz o tratamento em casa e sigo me recuperando, porque é uma doença de recuperação longa", relata.
O diretor técnico, Luiz Fausto, destaca o aprendizado que fica com a pandemiaDesafios - A partir de 21 de abril, quando o governo destinou a Policlínica para somar esforços com a rede municipal de saúde no acolhimento de pacientes com o novo coronavírus, o diretor técnico Luiz Fausto da Silva passou a contar com equipes experientes e também recém-formadas para enfrentar um momento inédito na trajetória de qualquer profissional de saúde. Se o tempo era curto para a adequação, era enorme o empenho de todos os envolvidos em ajudar.
"Foi um desafio sem precedentes, mas com achados importantes, como a equipe de novos médicos recém-saídos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), que unidos aos mais graduados, formaram uma mescla que deu muito certo", reconhece. "Separar os casos graves dos simples e destiná-los ao tratamento e diagnóstico adequado foi o que impulsionou essa reviravolta da diminuição de novos casos", credita.
A médica Fernanda Moreira, que atuou como agente de regulação da unidade nesses dois meses, é uma dessas novas profissionais. Ela confirma que essa primeira experiência profissional tão intensa deixa como legado a importância do atendimento humanizado. "A Covid-19 ataca vários sistemas e mexe como emocional do paciente. Muitos vinham com falta de ar, mas era ansiedade, era desespero. Chegavam a nós e tinham acolhimento, eram ouvidos. Isso fez toda a diferença", atesta.
Dedicação - Parte da equipe de atendentes da Policlínica, Ingrid Caxias era uma das primeiras a lidar com quem buscava por ajuda médica. "Foram dias muito intensos, mas foi muito gratificante estar aqui e poder ajudar. Fizemos tudo para que as pessoas fossem recebidas da melhor maneira possível".
A equipe de enfermagem, constantemente citada nos agradecimentos dos recuperados, também fez diferença nesse protocolo humanizado. "As pessoas chegavam angustiadas por atendimento, e tínhamos de estar preparados. Muitos que vieram aqui não esperavam por isso, e recebíamos elogios ali mesmo, ouvíamos que não esperavam aquilo na saúde pública. Agradeço por essa experiência, porque foi um marco na minha história de enfermeira assistencial", reconhece Elaine Braga.
Além dos médicos e enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais e outros profissionais da saúde compuseram as equipes que se dedicaram integralmente a oferecer assistência completa. "Estamos lidando com uma doença que acomete o sistema fisiológico como um todo. A equipe multiprofissional cuidou não só do agravo principal, que foram os sintomas respiratórios, mas também de outras questões. Com muito empenho contornamos a situação e sustentamos o sistema de saúde de Belém, evitamos o colapso. Sensação é de dever cumprido e gratidão", conclui o diretor assistencial, Orlando Reis.
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Agência Pará
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