A notícia de que os brasileiros precisariam evitar ao máximo a aglomeração de pessoas para brecar a contaminação pelo novo coronavírus pegou a todos de surpresa. Neste momento, respeitando o isolamento social, muitos trabalhadores estão em casa, trabalhando de home office, assim como grande parte dos estudantes, que tiveram suas aulas suspensas.
Sabendo da importância da quarentena para a saúde pública, os jornalistas da redação do Brasil de Fato elaboraram uma lista com indicação de 15 livros para serem lidos durante esse período inédito em nosso país.
As obras sugeridas vão de clássicos da literatura mundial a lançamentos, abordam diferentes temas e são de autoria de escritores de diversas nacionalidades.
Além de preencher o tempo com conteúdo de qualidade, a leitura pode ajudar a relaxar e prender a atenção em outros assuntos em meio a tantas notícias e preocupações causadas pela pandemia. Fica a dica!
Confira a lista:
1) Amora, de Natalia Borges Polesso
Indicação de Luiza Mançano, tradutora e editora da equipe do Brasil de Fato, o livro da autora gaúcha Natalia Borges Polesso reúne uma série de contos – longos e curtos – sobre a temática lésbica, com narrativas cotidianas sobre a invisibilidade, o preconceito, mas também a descoberta e a persistência do amor (e suas rupturas), com personagens que vão da infância à velhice.
“É uma boa dica para dias de quarentena, para demonstrar que a resistência se faz também no cotidiano, na vida privada, e que queremos estar vivas e bem acompanhadas”, destaca Luiza.
Publicado pela editora Não Editora, o livro venceu o Prêmio Jabuti na categoria "Contos" em 2016 e o Prêmio Açorianos, na mesma categoria.
2) Mulheres, raça e classe, de Angela Davis
Referência para o movimento negro, o clássico da ativista estadunidense fala sobre a escravidão e sobre a forma pela qual a mulher negra foi desumanizada. Em Mulheres, raça e classe, Davis também apresenta o debate sobre o abolicionismo penal como imprescindível para o enfrentamento do racismo institucional.
Para a repórter Marina Duarte de Souza, que sugere a obra, Davis mostra o quanto é importante considerar raça, classe e gênero na luta contra as opressões para a construção de um novo modelo de sociedade. “Ela nos dá a dimensão da impossibilidade de se pensar um projeto de nação que desconsidere esses pontos e a centralidade do racismo”, comenta a jornalista.
3) Amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez
Lançado em 1985, o livro do colombiano Gabriel García Márquez, transcende gerações e se mantém vivo ano após ano. O romance de realismo fantástico conta a saga, de vida e amor, de Florentino Ariza e Fermina Daza num triângulo amoroso que dura 53 anos. A jornalista Vitoria Rocha, que trabalha na Agência CPMídias, parceira do Brasil de Fato, define a obra como “uma leitura que cativa e aquece e pode ser devorada em períodos de isolamento como este”.
4) O que fazer, de Nikolai Tchernychevskii
Imagine ler a íntegra de um livro que inspirou os jovens revolucionários da Rússia e que foi referência para Vladimir Lênin? Pois é! A obra O que fazer, de Nikolai Tchernychevskii, foi lançada pela editora Expressão Popular e não escapou da lista de leituras da jornalista Sheila Oliveira, também assessora da Agência CPMídias.
Ela destaca que o livro influenciou intelectuais russos a desistirem da tentativa de reformar um regime autoritário e passarem para o caminho da revolução. Além disso, não podíamos deixar de ressaltar, a obra traz um debate sobre direitos iguais entre homens e mulheres.
5) Terra Sonâmbula, de Mia Couto
A sugestão da Geisa Marques, editora da Rádio Brasil de Fato, é um romance escrito por Mia Couto e publicado em 1992. “Terra Sonâmbula” ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX. A obra retrata o Moçambique pós-independência, mergulhado em uma devastadora guerra civil, em que um velho e um menino mergulham em fantasias míticas.
6) A montanha é algo mais que uma imensa estepe verde, de Osmar Cabezas
Este livro é um dos principais relatos — ao mesmo tempo literário e político — da experiência do autor durante a guerrilha nicaraguense contra a ditadura de Somoza. Na opinião da técnica de áudio Lua Gatinoni, Osmar Cabezas consegue registrar fatos históricos por meio de uma linguagem fácil, que permite ao leitor visualizar os fatos históricos com clareza.
Ela ressalta que a obra é importante para a organização popular de uma forma geral, pois traz a esperança de que a libertação do povo, mesmo com todas as dificuldades, é possível.
7) As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino
Relatos de viagens contados de uma maneira diferenciada, com descrições dos lugares feitas de um jeito único. É assim que As cidades invisíveis registra as conversas entre os personagens Marco Polo e Klubai Khan.
A dica dessa obra rica em detalhes é de Daniel Giovanaz, correspondente internacional do Brasil de Fato. “Uma escrita leve, com múltiplos sentidos, para estimular a imaginação dos que têm o privilégio de estar em casa nesses dias difíceis. Quem ler certamente verá sua cidade com outros olhos quando o pesadelo do isolamento terminar”, aposta o jornalista.
8) A era do capital improdutivo, de Ladislau Dowbor
Já se perguntou como os bancos registram lucros bilionários em plena recessão e desemprego? Como o capital financeiro atua? Se quiser conhecer a resposta para essas e outras perguntas relacionadas ao tema, é só seguir a sugestão de livro da comunicadora popular Larissa Gould, da equipe de Redes e Multimídia do Brasil de Fato.
Durante a quarentena, ela tem dividido seu tempo entre o trabalho em home office e a leitura da obra A era do capital improdutivo, do economista brasileiro Ladislau Dowbor. Larissa garante a qualidade do conteúdo e das reflexões propostas.
“É um baita livro para entender as ‘respostas ao mercado’, das quais tanto se fala nesse momento, como a crise afeta os mais pobres e por quê!”, afirma Larissa.
9) O pomar das almas perdidas, de Nadifa Mohamed
Um dos destaque da literatura africana, a escritora Nadifa Mohamed mergulha nos anos finais da década de 1980 na Somália em “O pomar das almas perdidas”. Ela descreve o período marcado por uma ditadura sangrenta às vésperas da revolução no país localizado no “chifre” da África, ao leste do continente.
Para contar um pouco do país em que nasceu, Mohamed interlaça o sofrimento de três mulheres de idades e condições sociais bem diferentes: Kawsar, uma viúva de luto pela filha; Deqo, uma menina nascida e criada em um campo de refugiados; e Filsan, uma jovem soldado que se voluntaria na revolução. Em meio a fugas forçadas e conflitos irreparáveis, as três se reencontram para viver um destino final.
Segundo o repórter Erick Gimenes, correspondente em Brasília que indica a obra, no decorrer da leitura é possível sentir cheiros, gostos e cores do país por meio da escrita detalhadamente poética de Nadifa.
“A narrativa é tão rica em detalhes socioculturais, de língua, de povo, que chega perto de ser uma correção histórica por conhecermos tão pouco da Somália. O pomar das almas perdidas é, ao mesmo tempo, uma lição de história, uma lamentação nacional e um afago ao peito”, conta o jornalista.
A ambientação de "O pomar das almas perdidas" ocorre em Hargeisa, local onde a autora nasceu, a segunda maior cidade da Somália.
10) A Peste, de Albert Camus
Clássico da literatura mundial, o livro do filósofo e romancista Albert Camus trata de uma doença que vai se alastrando em uma cidade da Argélia e mostra como ela muda a rotina e a vida das pessoas. Qualquer semelhança com o que estamos vivendo com a pandemia do novo coronavírus não é mera coincidência.
Vivian Fernandes, coordenadora de jornalismo do BdF, conta que escolheu a obra porque, apesar de ter um lado um tanto sombrio, Camus mostra como é possível ver esperança no meio daquilo que parece só ter desesperança.
“Como disse um colunista do New York Times ao falar sobre o livro, a gente nunca pode se sentir seguro, e é por isso que temos que amar outros seres humanos — nossos companheiros condenados — e trabalhar sem esperança ou desespero pela amenização do sofrimento”, comenta Vivian.
11) Tudo nela brilha e queima, de Ryane Leão
Um livro de poesia sobre as vivências femininas que deveria ser lido por todas as mulheres. É dessa forma que a repórter Lu Sudré indica a leitura dos versos da cuiabana Ryane Leão.
Tudo nela brilha e queima reúne reflexões sobre questões subjetivas e comuns a todas as mulheres, atingidas pelas diversas formas de violência que existem em uma sociedade machista cotidianamente.
Por outro lado, a obra também fala sobre a ancestralidade, o acolhimento e o cuidado que existe entre as mulheres, e, mais do que isso, a força e resistência inerente ao gênero feminino.
Coleção Emergências
Para encerrar a lista de indicações de leitura do melhor jeito possível e não deixar de lado a conjuntura política, a redação do Brasil de Fato sugere a coleção Emergências, publicação da editora Expressão Popular.
12) Comunicações em tempos de crise – economia e política, de Helena Martins
Controladas por empresas e corporações, as redes sociais podem fazer uma manipulação política e ideológica por meio da modulação algorítmica. Bastante discutido atualmente, esse é um dos assuntos abordados por Helena Martins, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutora em Comunicação no livro Comunicações em tempo de crise, nossa 12ª indicação.
A obra expõe uma analise sobre a uniformização de ideias e opiniões com base na concentração midiática, nos meios tradicionais e também na internet, discussão relevante para a compreensão de informações que vêm sendo disseminadas e como elas impactam no contexto político, econômico e social do Brasil.
13) Autoritarismo contra a universidade – o desafio de popularizar a defesa da educação pública, de Roberto Leher
O sucateamento da educação pública esteve presente nos noticiários durante todo o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. Em 2020, a continuidade das decisões políticas do ministro da Educação, Abraham Weintraub, mostra que as perspectivas não são positivas para a área.
Nesta obra, o ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, abre uma discussão sobre o que está por trás do esvaziamento científico das instituições públicas do conhecimento e sobre a urgência da defesa da educação pública.
14) O colapso da democracia no Brasil - da Constituição ao golpe de 2016, de Luis Felipe Miguel
Publicado em 2019, o livro do cientista político traz um panorama pós-ditadura até o recente impeachment que tirou a presidente Dilma Rousseff do poder em 2016, auxiliando no entendimento do contexto político até os dias atuais.
15) Quando vier o silêncio – o problema mineral brasileiro, de Charles Trocate e Tádzio Coelho
A exemplo de crimes socioambientais como o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG) e da mineradora Vale em Brumadinho (MG), há pouco mais de um ano, indicamos a obra citada por questionar por que as grandes mineradoras têm causado graves problemas à população brasileira, sem descartar a importância da mineração na vida da humanidade ao longo de sua história.
Brasil de Fato
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