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Brasil registrou mais de 1.000 mortos nas últimas 24 horas e poderá chegar a 100.000 mortos em agosto

País se acerca dos 400.000 casos de covid-19. Estudos apontam que país pode superar Estados Unidos no número de mortes

Enterro de Izolina de Sousa, 85, que morreu de covid-19, no cemitério da Vila Formosa, em São PauloO Brasil, segundo país com mais casos da covid-19 no mundo, está próximo de alcançar a marca de 400.000 pessoas infectas pela doença. Nesta terça-feira o Ministério da Saúde confirmou 391.222 casos de infectados pelo coronavírus, 16.324 a mais do que na segunda-feira. O país já soma 24.512 mortos, com o aumento de 1.039 óbitos nas últimas 24 horas. Ao fazer uma análise da situação da pandemia, Eduardo Macário, secretário substituto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, deixou claro que "a nossa curva [de contágios e vítimas] ainda é crescente”, e que “a situação é de risco e alerta”. De acordo com ele, as regiões Sul e Sudeste devem redobrar a atenção agora no período de inverno, quando aumenta a propagação de doenças respiratórias. Sem políticas de restrição adequadas —o próprio presidente Jair Bolsonaro continua indo às ruas participar de aglomerações— especialistas e institutos internacionais acreditam que o Brasil pode se tornar um dos países com maior número de mortos pela covid no mundo. Atualmente, ocupa o sexto lugar.

Algumas previsões traçam um panorama grave para o cenário brasileiro tendo em vista o crescimento exponencial dos números e a falta de políticas públicas e comando adequados para conter a disseminação do vírus. Um modelo de análise estatística do instituto de métrica da Universidade de Washington, que ajuda a subsidiar decisões da Casa Branca, aponta que o Brasil pode chegar a 125.000 mortes até o mês de agosto. O intervalo de óbitos previsto por eles fica entre 68.311, caso o país adote medidas mais duras de controle, e 221.078. Para efeito de comparação os Estados Unidos, onde a doença se mostrou mais letal, tem atualmente pouco mais de 100.000 mortes. No entanto, lá a curva já começa a dar sinais de achatamento, ao contrário do que ocorre por aqui.

Ainda segundo esta estimativa da Universidade de Washington, o pico de óbitos no Brasil deve se dar em 13 de julho, com 1.526 mortes em 24 horas, e a partir de agosto a curva de mortes começa a diminuir, com cerca de 1.400 óbitos a cada dia (atualmente, o patamar de óbitos registrados chega a 1.000). O diretor da entidade, Christopher Murray, afirmou que o país “deve seguir a liderança de Wuhan, na China, assim como a da Itália, Espanha e Nova York, impondo medidas para o controle de uma epidemia em rápida evolução, e assim reduzir a transmissão do coronavírus”. Todos os casos citados por Murray lançaram mão de quarentenas mais drásticas do as adotadas no Brasil, inclusive com lockdown —quando as pessoas só podem sair de casa para ir ao mercado e à farmácia. O presidente Jair Bolsonaro se opõe a qualquer uma destas medidas, que estão sendo adotadas de forma fragmentada por alguns governadores e prefeitos. Em São Paulo, que continua sendo o principal epicentro da pandemia no Brasil, com 86.017 casos confirmados e 6.423 mortes, o governador João Doria (PSDB) descartou um lockdown alegando falta de policiais para garantir o cumprimento da medida.

O instituto de métrica da Universidade de Washington não é o único a prever um cenário dramático para o Brasil para os próximos meses. Alexandre Kalache, que trabalhou na Organização Mundial de Saúde e hoje é presidente do International Longevity Centre, afirmou ao jornal Financial Times que “não há dúvidas de que o epicentro da pandemia está migrando para o Brasil”. Segundo ele, se a curva de contágios e mortes continuar a subir exponencialmente o país “alcançará 120.000 mortes”. Kalache não descarta que o Brasil ultrapasse os Estados Unidos dentro de algumas semanas caso não adote as medidas preventivas recomendadas pela OMS e por entidades médicas.

Em meio às previsões negativas para o país, a notícia positiva da entrevista coletiva do Ministério da Saúde nesta terça-feira ficou por conta do Estado do Amazonas. Eduardo Macário destacou a redução da curva de óbitos no Estado, especialmente na região metropolitana de Manaus, que passa por situação de calamidade, com hospitais lotados e caixões sendo enterrados em valas. Mas ele fez uma ressalva: “Não podemos considerar, com base nas informações que nós temos, que o Estado já atingiu o pico. É importante dizer que as ações precisam ter continuidade”.

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El País