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Cultura

Dia de São Jorge e de Ogum é um legado histórico de diversidade religiosa e cultural

A diversidade religiosa tem uma matriz histórica, como um instrumento de luta dos ancestrais que sofreram com a escravização

"Eu canto pra Ogum. Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais", assim diz a música de Jorge Ben Jor, popularmente conhecida na voz do cantor Zeca Pagodinho. Conhecido como santo guerreiro, por seu cavalo branco e sua espada, nesta sexta-feira, 23 de abril, para quem professa a religião católica, é dia de São Jorge e em Belém também é celebrado o orixá Ogum, nas religiões de matriz africana.

Resistência e esperança - O cientista da religião e sacerdote do Candomblé da Nação Jeje Savalú, Wanderlan Amaral, explica que as duas devoções são muito importantes no que se refere às manifestações culturais no país, um de um santo católico e outra de uma divindade africana. “Vemos nelas o rosto da diversidade cultural brasileira e a riqueza da fé dos povos que construíram este país, nos legando uma história plena de simbolismos onde a fé figura como resistência e esperança”, explicou.

O pesquisador ressalta que essa diversidade religiosa tem uma matriz histórica, como um instrumento de luta dos ancestrais que sofreram com a escravização, e encontraram no culto aos santos católicos uma forma de não serem castigados pela fé que professavam. Ele explica também que a devoção em Ogum e São Jorge são diferentes, e sofre algumas mudanças regionais. “Em Salvador, São Jorge é sintetizado com Oxossi, já no Rio de Janeiro Oxossi é sintetizado com São Sebastião. São experiências diferentes que convergem para a fé na proteção divina.”

Salve Jorge! - O dia 23 de abril é um dia especial para o Terreiro de Nagô Yemanjá, conhecido também como Instituto Cultural Nagô Afro Brasileiro (ICNAB). Foi nesta data, em 1961, que o Babalorixá José Rimabar Rodrigues, filho de Ogum, fundou o Casa de Santo. Hoje o seu filho biológico, Fernando Antônio Rodrigues, assumiu o terreiro e atualmente é Babalorixá Fernando de Ogum.

Rezas e ladainhas - “Hoje em nossa casa sempre foi um dia de festa, com muita gente e muita alegria, de rezas e ladainhas em honra ao glorioso São Jorge os tambores tocando e homenagem a orixá Ogum. Mas já é o segundo ano consecutivo que não abrimos nossas portas para receber os devotos, por causa da pandemia. Só reunimos alguns filhos da casa para fazer as oferendas ao orixá. Mas na certeza e com a fé nos orixás que tudo irá passar”, disse com otimismo.

É um momento de celebração também para os frequentadores da Igreja de São Jorge, histórica no bairro da Marambaia. Este ano, a Igreja abriu para missas presenciais em homenagem à santidade, respeitando as normas de restrição.

Devota de São Jorge há mais de 30 anos, Selma Gaspar participa de várias pastorais na paróquia. “São Jorge é nossa fortaleza. Sou devota dele desde pequena, quando fiz a catequese. Conheci a história do Santo, que foi um mártire, um soldado. Um Santo que a se apega muito principalmente nos momentos de perigo. Já clamei muito por ele em momentos que eu me senti em perigo”. Em 2020, por exemplo, Selma conta que contraiu a Covid-19, no final de abril, e foi sua fé em São Jorge que a fortaleceu.

Assim como Selma, a devota Cherry Oliveira, também sente-se agraciada com a devoção por São Jorge. “Estamos em um momento atípico e muito triste, por isso eu me pego cada vez mais com São Jorge e peço que ele nos proteja e coloque sobre as patas de seu cavalo tudo o que não nos fortalece. Estamos tristes, a gente sabe que a época é diferente, perdemos várias pessoas. Pela oração, pedimos forças para atravessar esse momento.”

Esperança - Para Wanderlan, que professa a prática religiosa do Candomblé, em um período difícil de pandemia, em que as pessoas passam por diversos tipos de luto, o sentido da fé em Ogum é de esperança. “Ogun é um Grande Guerreiro, que luta conosco nas nossas batalhas. A fé para nós é a esperança de que tudo isso passe, é o nosso consolo diante de tantas dores e o horizonte que nos faz seguir em frente.”

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Agência Belém