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O impacto da pandemia no tratamento de pacientes com câncer

Entidades estimam que ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com a doença nos dois primeiros meses da crise gerada pelo coronavírus. Médicos temem ‘epidemia de cânceres avançados’

Enfermeira em hospital de Brasília; exames e cirurgias têm sido cancelados por causa do coronavírusA pandemia do novo coronavírus gerou uma onda de cancelamento de consultas e cirurgias e tem
prejudicado o tratamento de pacientes com câncer. Entidades de saúde alertam que a suspensão
desse tipo de atendimento irá levar, nos próximos meses, a uma explosão de casos em estágio
avançado, quando as chances de cura são menores, o que poderá resultar em mais mortes.

Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Patologia e pela Sociedade Brasileira de
Cirurgia Oncológica mostra que, de 11 de março, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde)
classificou o surto do novo coronavírus como pandemia, a 11 de maio, sete em cada dez cirurgias de
câncer deixaram de ser feitas no Brasil.

A realização de biópsias, segundo a mesma pesquisa, caiu de 50% a 90%, dependendo dos serviços.
As entidades estimam que algo entre 50 mil e 90 mil brasileiros deixaram de receber diagnóstico de
câncer no período. Apenas na rede pública de São Paulo, foram realizados 5.940 exames para
detectar a doença nos dois primeiros meses da pandemia. No mesmo período de 2019, esse número
era de 22.680.

Em abril, pacientes que dependem de hospitais públicos na cidade de São Paulo relataram ao site
G1 que os seus atendimentos tinham sido cancelados. Uma mulher diagnosticada com câncer de
rim em maio e que precisa realizar uma cirurgia para retirar o órgão foi aconselhada a tentar
remarcar uma consulta apenas em setembro. A capital paulista tem 35 mil pessoas com câncer, 5%
dos doentes do país.

O Instituto OncoGuia identificou, em pesquisa com pacientes, que 45% dos entrevistados relataram
dificuldades no tratamento.

O hospital Santa Marcelina, instituição filantrópica em São Paulo que destina 87% do seu
atendimento ao SUS (Sistema Único de Saúde), apresentou uma taxa de ocupação do serviço de
oncologia pediátrica 70% menordo que estava acostumada. A média de atendimento, que era de 25
entre janeiro e março, caiu para 8.

Ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente do Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com
Câncer), Sidnei Epelman, disse ser preciso alertar que “pacientes com câncer não podem fugir do
tratamento hospitalar”.

O número de mortos pelo novo coronavírus no Brasil passou dos 20 mil na quinta-feira (21), dia em
que o país bateu recorde de óbitos registrados em 24 horas, com 1.188. O total de casos
confirmados era de mais de 310 mil na mesma data.

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