Na quarta-feira, Manaus registrou recorde de enterros pelo quarto dia consecutivo, com 198 sepultamentos em 24 horasEm meio a uma explosão dramática de casos e internações por covid-19 no Amazonas, o sistema de saúde do estado enfrenta um verdadeiro colapso, com hospitais sobrecarregados, sem leitos disponíveis e sem oxigênio para os pacientes hospitalizados com coronavírus.
Devido à calamidade sanitária, o governador Wilson Lima (PSC) informou nesta quinta-feira (14/01) que 235 pacientes serão transferidos para outros cinco estados – Goiás, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte – e para o Distrito Federal para receberem atendimento médico.
"Quero agradecer a esses governadores que, num gesto humanitário, estão estendendo a mão para acolher nossos irmãos que estão precisando de todo apoio possível", afirmou Lima.
Segundo o portal G1, o governo amazonense disse ter feito uma análise da situação em cada estado antes de tomar a decisão de transferir as centenas de pacientes, a fim de não sobrecarregar o sistema de saúde de outras regiões.
Os pacientes que serão transportados estão em estado moderado da doença, segundo afirmou um representante do Ministério da Saúde, coronel Franco Duarte.
"São pacientes que ainda continuam dependentes do oxigênio, mas eles têm toda a segurança plena para serem aerotransportados", disse. "O paciente do Amazonas que subir na aeronave terá toda a segurança e assistência, com cobertura até de assistentes psicossociais, para não haver falha."
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o governador amazonense confirmou que o estado vive uma crise no abastecimento de oxigênio hospitalar e "clama por socorro".
"Hoje, o estado do Amazonas, que é referência para o mundo, e para onde todos voltam seus olhares quando há um problema relacionado à preservação do meio ambiente, está clamando, pedindo por socorro. Considerado por muitos o pulmão do mundo, uma floresta que produz uma quantidade significativa de oxigênio, hoje o nosso povo está precisando desse oxigênio", disse Lima.
Em pronunciamento, o secretário de Saúde amazonense, Marcellus Campêlo, explicou que houve um aumento da demanda por oxigênio muito maior que o esperado.
"Fizemos plano de contingência considerando a elevação dos casos, mas a demanda surpreendeu um dos maiores conglomerados de gás do mundo", afirmou ele, referindo-se à empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio para o governo amazonense.
Segundo o governo estadual, nos últimos dias a demanda por oxigênio mais que dobrou em relação à primeira onda de covid-19 em Manaus. O consumo diário de oxigênio, que era em torno de 30 mil metros cúbicos entre abril e maio, chegou agora a 70 mil metros cúbicos. Essa demanda é quase três vezes superior ao que os fornecedores do estado são capazes de entregar.
Profissionais de saúde e familiares de vítimas relatam cenas de horror em instituições de saúde de Manaus, como o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e a Fundação de Medicina Tropical, referência em doenças infecciosas, com pessoas morrendo sem conseguir respirar.
"Acabou o oxigênio, e os hospitais viraram câmaras de asfixia", disse o pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo."Há informações de que uma ala inteira de pacientes morreu sem ar. [...] Os que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes."
Em vídeo divulgado nesta quinta-feira, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mario Vianna, afirmou que a categoria já havia alertado que o estado poderia chegar a essa situação e fez um apelo às autoridades: "Transportar oxigênio de outros estados em caráter de guerra é uma necessidade para se salvar vidas", declarou.
Imagens publicadas pela imprensa local mostram familiares de pacientes que recebem tratamento em casa correndo para reabastecer os cilindros de oxigênio alugados ou fornecidos pelos planos de saúde, mas sem sucesso.
Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro chegou a responsabilizar os governos de Manaus e do Amazonas por "deixar acabar" o oxigênio de pacientes com covid-19. Nos últimos dias, o Ministério da Saúde enviou 386 cilindros de oxigênio para a capital amazonense por via aérea, como medida paliativa.
Em meio à situação dramática e na tentativa de reduzir os contatos e as infecções, o governador Wilson Lima decretou nesta quinta-feira um toque de recolher em todo o Amazonas. A medida valerá inicialmente por dez dias.
O decreto prevê o fechamento de todas as atividades que envolvem a circulação de pessoas entre 19h e 6h da manhã. Apenas atividades e transportes de produtos essenciais poderão continuar funcionando, enquanto farmácias serão limitadas a serviços de entregas.
Em relação à movimentação dos cidadãos, apenas profissionais de saúde e de outras áreas essenciais, como segurança pública, poderão circular pelas cidades nessa faixa horária.
Manaus foi a cidade brasileira cujo sistema de saúde foi o primeiro a colapsar durante o primeiro pico de infecções no Brasil, no primeiro semestre do ano passado. Nos últimos dias, a cidade voltou a registrar um aumento dramático no número de novos casos, internações e mortes.
Na quarta-feira, Manaus registrou um recorde de enterros diários pelo quarto dia consecutivo, com 198 sepultamentos realizados em 24 horas. Em todo o Amazonas, a média móvel de mortes cresceu 183% nos últimos sete dias.
Em meio à superlotação de cemitérios, duas câmaras frigoríficas foram instaladas no Cemitério do Tarumã, visando manter conservados os corpos de vítimas que morrerem em horários em que o local estiver fechado. A prefeitura de Manaus ampliou o horário de funcionamento dos cemitérios, até as 18h, na tentativa de atender à alta demanda de sepultamentos.
A Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) informou que o número de internações em Manaus chegou a um pico diário de 250 nesta semana, o que representa quase o dobro do registrado no primeiro pico da epidemia, entre abril e maio do ano passado.
Somente nos 12 primeiros dias de janeiro, 2.221 pessoas foram internadas com covid-19 na cidade. Em todo mês de dezembro de 2020, foram registradas 1.371 hospitalizações.
No Amazonas, a taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes é atualmente de 143,1 – a terceira mais alta do país, ficando atrás somente do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
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EK/ots
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