Médicos e enfermeiros atendem pacientes com covid-19 em hospital montado num ginásio em Santo André (SP), no dia 1 de janeiroO agravamento da pandemia de coronavírus se impõe no Brasil nos primeiros dias de 2021, com o aumento no número de internações e mortes em Estados e capitais. Não houve muitas movimentações durante o recesso de Natal e Ano Novo com relação ao plano do Governo Jair Bolsonaro de vacinar a população. Tudo segue incerto e pendente para resolver, mas longe de acabar. O Brasil deixa as festas de fim de ano somando 196.018 mortes e 7.733.746 contágios desde o início da pandemia. Os dados oficiais não sofreram modificações severas por conta do feriado de Ano Novo e do fim de semana, dias nos quais os laboratórios de diagnóstico fazem menos análises. Acabam mascarando o agravamento da pandemia: entre o Natal e o Ano Novo o país registrava mais de 1.000 mortes e 50.000 contágios diariamente, as maiores cifras desde setembro.
Segundo os dados das secretárias estaduais da Saúde analisados pelo consórcio de veículos de imprensa brasileiro, as mortes por covid-19 aumentaram 64,45% de novembro para dezembro no Brasil. O Estado do Amazonas, um dos mais afetados pela pandemia ainda em seus primeiros meses, voltou a registrar um rápido aumento no número de casos e mortes. O Hospital Pronto-Socorro 28 de agosto teve de reativar no último dia de 2020 as câmaras frias usadas para armazenar os corpos de pessoas mortas. Diante desse cenário, o Estado começa a semana com o fechamento total de seus serviços não-essenciais por ao menos 15 dias. Essa medida foi determinada pela Justiça local, pelas mãos do juiz Leoney Figliuolo Harraquian.
De acordo com a decisão, as atividades consideradas essenciais poderão funcionar, mas deverão ser adotadas medidas que impeçam a aglomeração de pessoas. Além disso, a força policial poderá ser usada para “preservar a ordem pública”. Caso as medidas não sejam cumpridas, o governador Wilson Lima será multado em 50.000 reais diariamente. O Governo ainda deverá fazer um pronunciamento diário nos meios de comunicação para explicar as medidas à população.
No Rio de Janeiro, o secretário municipal da Saúde da capital, Daniel Soranz, afirmou que o município prevê abrir 450 postos de vacinação se aproveitando das estruturas das Clínicas da Família. O titular da pasta também anunciou que quer contratar 100 leitos de enfermaria e 50 de UTI na rede privada para tratar de pacientes com covid-19. Paes assumiu seu terceiro mandado na última sexta-feira anunciando a abertura de 343 novos leitos hospitalares voltados para o tratamento de pessoas contagiadas —além da criação de um comitê de especialistas “majoritariamente formado por pessoas de fora da prefeitura” e de um “centro de operações de emergência funcionando dentro do Centro de Operações” da capital. Parte desses leitos já existem na rede pública e estão sendo reativados.
Além disso, prefeito Eduardo Paes (DEM) participou de uma coletiva ao lado do governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e anunciou que a cidade está pronta para iniciar a vacinação dos cariocas já em janeiro. Em movimento similar ao feito pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o prefeito jogou a pressão no colo do Governo Federal ao dizer que seguirá o plano nacional de imunização, cujas datas vão ser anunciadas “amanhã” —uma informação dita por Paes que o Ministério da Saúde depois negou.
A vacinação segue sendo uma incógnita. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 31 de dezembro um pedido de importação excepcional de dois milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca feito pela Fiocruz. “A importação é considerada excepcional porque o imunizante ainda não foi submetido à autorização de uso emergencial ou registro sanitário”, informou a agência. A Fiocruz pretende terminar o registro do imunizante de Oxford na Anvisa até 15 de janeiro. Já o uso do imunizante Pfizer/BioNTech, o primeiro a ser aplicado no mundo, segue incerto. A empresa criticou no final do ano o protocolo da agência para uso emergencial, mas assegura que seguirá com os trâmites para conseguir o registro definitivo. Enquanto isso, clínicas privadas correm por fora. Em entrevista à Globo News neste domingo, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) contou que negocia com o laboratório indiano Bharat Biotech a compra de cinco milhões de doses de um imunizante cujo uso emergencial acaba de ser aprovado na Índia. O uso no Brasil da Covaxin depende da autorização da Anvisa.
Já São Paulo, que conta com a maior rede pública e privada de saúde, com vários centros de excelência, volta a assistir seus hospitais pressionados. Os números de novas mortes e contágios voltaram a subir em novembro junto com as taxas de ocupação de leitos. De acordo com o boletim de dados da capital paulista deste domingo, 61% dos leitos de UTI estão ocupados, sendo 59% de hospitais municipais e 83% de centros contratualizados do SUS. Há três meses atrás, no dia 3 de outubro, 36% dos leitos de UTI estavam ocupados, sendo 35% nos centros municipais e 42% nos contratualizados. O Estado manteve os comércios fechados ao longo do recesso de fim de ano, mas volta a passar para a fase amarela de seu plano de contenção. Isso significa que os locais poderão reabrir, ainda que com limitação de horário.
Apesar de todos esses fatores, foram registradas aglomerações em praias, engarrafamentos de jatinhos na Bahia e festas de ricos e celebridades ao longo do recesso de fim de ano, o que valeu uma chamada de atenção de um comissário da União Europeia. “Tenho visto imagens vergonhosas do Brasil”, escreveu o italiano Paolo Gentiloni no Twitter. O próprio presidente Bolsonaro, que desde o início da crise sanitária vem contrariando as recomendações da classe médica e boicotando as medidas de combate à pandemia, começou o ano fazendo um passeio de barco na orla de Praia Grande, município do litoral paulista que não seguiu as diretrizes do governo estadual e manteve suas praias abertas. O mandatário mergulhou na água e se aglomerou com apoiadores que acenavam para ele, em clara provocação ao governador Doria, seu rival político. Nas próximas semanas, o país começará a medir o custo de mais essas omissões diante da pandemia, com o risco de colapso das redes locais de saúde, segundo especialistas.
No mundo, a situação também preocupa. Os Estados Unidos, que já iniciaram a vacinação de sua população, ultrapassaram neste domingo a marca de 350.000 mortes e registraram mais de 277.000 novos contágios em 24 horas, um novo recorde. O Reino Unido, o primeiro país a iniciar plano de imunização, ainda no início de dezembro, registrou pelo sexto dia consecutivo mais de 50.000 novos contágios e superou 75.000 óbitos.
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