Manifestação em Brasília pela intervenção militar e a favor de Bolsonaro, que contou com a participação do presidente brasileiro, em 19 de abril de 2020O jornal Le Monde desta quarta-feira (13) publica um artigo sobre os manifestantes “antiquarentena e pró-Bolsonaro” que saem às ruas todos os finais de semana no Brasil.
“Minoritários, mas barulhentos e muito bem organizados, os manifestantes negam o perigo do coronavírus e defendem o presidente brasileiro contra um suposto golpe de Estado que eles acreditam estar em preparação pelos representantes da "velha política"", escreve o correspondente do vespertino no Brasil, Bruno Meyerfeld.
O jornalista informa que os defensores de Bolsonaro ocupam as ruas, todo final de semana, há dois meses, isto é, desde o início da pandemia de coronavírus no país. No último sábado (9), quando o Brasil registrava mais de dez mil mortos pela Covid-19, eles eram dezenas a desfilar na Praça dos Três Poderes em Brasília, vestidos de verde e amarelo, debochando do "fake vírus" e clamando o apoio incondicional ao “coronacético” presidente brasileiro, descreve Le Monde.
O artigo afirma que apesar de minoritários, esses manifestantes têm uma grande visibilidade midiática nas redes sociais e são capazes de mobilizar centenas de pessoas em todas as grandes cidades do país. A prioridade do movimento, que promove uma “nova independência do Brasil”, é reativar a economia e reabrir o comércio fechado pela maioria dos 27 governadores. "Fala-se de mortos dos coronavírus, mas quem fala dos empresários que se suicidam porque a empresa deles faliu", pergunta um motorista entrevistado pelo jornal, durante um protesto em Campo Grande, no Rio de Janeiro.
"Plano para destituir Bolsonaro"
O correspondente do Le Monde também entrevistou Ronaldo Magalhães, militante do grupo “Ativista Patriota do Brasil”, de Niterói. Para ele, Bolsonaro está ameaçado e é preciso defendê-lo. “Desde o primeiro dia de seu mandato, existe um plano para destituí-lo e os representantes da velha política aproveitam da epidemia para recuperar o poder", explica o militante.
A "esquerda comunista", a grande mídia, os juízes “gangsters” do STF, e políticos de direita, como o ex-ministro Sérgio Moro, tratado como “Judas”, ou o governador de São Paulo, chamado de “Ditadoria”, também estão na linha de mira do movimento. Segundo o jornal, para defender o presidente e resistir ao risco de um golpe, os manifestantes cometem excessos, como a dança em torno de caixões, as agressões a enfermeiras e jornalistas, os apelos a invadir o Congresso e os hospitais. “O movimento pode ser extravagante, mas não tem nada espontâneo”, diz Le Monde.
Impeachment de Dilma
A socióloga Debora Messenberg Guimarães lembra ao vespertino que todos esses manifestantes ultraconservadores já estavam na rua em 2016 para pedir e comemorar o impeachment de Dilma Rousseff. Desde então, o discurso deles se intensificou. Hoje, “eles assumem sem complexo a rejeição às instituições democráticas, aponta a socióloga. Muitos pedem uma intervenção militar para salvar o soldado Bolsonaro, como o mediático grupúsculo "Os 300 do Brasil", que se autodefine como uma milícia não violenta, acrescenta o jornal.
Muitos ativistas foram contaminados pelo coronavírus durante as manifestações, afirma o texto. Até onde os manifestantes "antiquarentena" estão dispostos a apoiar o presidente? questiona Le Monde.
"Bolsonaro soube fidelizar ao máximo sua base e deslegitimar qualquer discurso alternativo. Seus partidários pensam que estão em uma guerra civil e que somente o presidente pode salvá-los. Eles o seguirão até o fim", analisa nas páginas do vespertino o politólogo Eduardo Mello.
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RFI - BR
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