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Poder

Bolsonaro nomeia pastor ligado ao grupo Mackenzie para o MEC

Quarto titular da pasta no atual Governo, Milton Ribeiro é advogado é membro do Conselho Deliberativo da Universidade Mackenzie e integrante da comissão e ética da Presidência da República

O novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, em imagem de outubro de 2018Em aceno aos evangélicos, nomeação é publicada no Diário Oficial da União. Ribeiro tem ligação com a Universidade Mackenzie e é pastor da Igreja Presbiteriana. Ele será o quarto chefe do MEC no governo Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro indicou o professor, advogado e pastor evangélico Milton Ribeiro para assumir o Ministério da Educação. Ele será o quarto ministro a ocupar o cargo no Governo. Ribeiro é vice-presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, que é o mantenedor da Universidade Mackenzie, de São Paulo. Desde maio de 2019 também ocupava um dos postos na Comissão de Ética da Presidência da República. O anúncio foi feito pelo presidente em suas redes sociais. Logo na sequência, a nomeação foi publicada em edição extra no Diário Oficial da União

A função é uma das mais estratégicas de toda a Esplanada. O ministro é o responsável por gerenciar um dos maiores orçamentos do país, de 103,1 bilhões de reais. A pasta estava sem comando desde 30 de junho, quando o economista Carlos Alberto Decotelli deixou a função porque causou constrangimentos ao Governo por ter mentido ao menos duas informações em seu currículo, a de que tinha concluído um curso de doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, e outro de pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. Decotelli ficou na função apenas cinco dias e substituiu o também economista Abraham Weintraub, que pediu demissão após se envolver em uma série de polêmicas com ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem chamou de vagabundos.

Entre os desafios de Ribeiro na pasta estão a corrida para aprovar o novo Fundo da Educação Básica (Fundeb), principal fonte de financiamento da educação brasileira que vence neste ano, e a coordenação dos esforços para o retorno das aulas em todo o país em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

O padrinho político de Ribeiro é o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, que também é pastor presbiteriano. Eles se conheceram quando Ribeiro era pastor na cidade de Pederneiras (SP) na igreja que era frequentada pela família de Mendonça. Assim que se tornou advogado-geral da União, Mendonça indicou Ribeiro para o cargo na Comissão de Ética da Presidência da República. Ambos se formaram em direito na mesma universidade, o Instituto Toledo de Ensino. Ribeiro diz em seu currículo que tem mestrado em direito pelo Mackenzie e em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

Em uma entrevista que concedeu ao portal gospel Guiame logo após assumir um cargo na Comissão de Ética, Ribeiro queixou-se da cobertura que a mídia fez de sua indicação para a função, por vinculá-la à sua opção religiosa, e não à sua qualificação profissional. “Eu estou nessa comissão, não porque eu sou pastor, ali não é uma capelania, ali é um ambiente técnico”, afirmou em junho do ano passado. Na mesma entrevista ainda afirmou que não era “ministro do Supremo do Brasil”, mas um “ministro do Supremo Deus”. E reforçou sua religiosidade: “Deus abriu as portas para eu poder contribuir de alguma maneira com a minha pátria, com o Brasil”.

Em nota após ser indicado para o cargo, Ribeiro afirmou que dará atenção especial para a educação básica, fundamental e o ensino profissionalizante. Também sinalizou que terá uma gestão diferente da de Weintraub, marcada pelo radicalismo, pela falta de diálogo com o Legislativo e por discursos conservadores. “É hora de um verdadeiro pacto nacional pela qualidade da educação em todos os níveis. Precisamos de todos: da classe política, academia, estudantes, suas famílias e da sociedade em geral.”

Azarão

Milton Ribeiro não era a primeira opção de Bolsonaro. Depois da saída de Decotelli ele chegou a convidar Renato Feder, secretário de Educação do Paraná, para o ministério. Mas após ser alvo de intensos ataques nas redes sociais por bolsonaristas vinculados ao escritor Olavo de Carvalho, Feder decidiu não aceitar o convite. Outro cotado era o economista e cientista político Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília (UnB). Todos são evangélicos.

A nomeação não agradou dois grupos de sustentação de Bolsonaro, os extremistas vinculados ao guru do bolsonarismo, Olavo de Caralho, que preferia alguém com características mais militantes, assim como parte da bancada evangélica, que defendia a nomeação de Anderson Correia, reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e membro da Igreja Batista. Quem comemorou a nomeação foi a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, uma evangélica alinhada com parte dos bolsonaristas. Em sua conta no Twitter, ela publicou a notícia com a nomeação de Ribeiro e a citação: “Que alegria!”

Apontada como um dos expoentes no Legislativo na área de educação, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), disse estar preocupada que o novo ministro “tenha sido escolhido por sua religião”. “Espero que Milton Ribeiro saiba dialogar, atue com base em evidências e priorize a educação”, afirmou a parlamentar.

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El País