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Artigo | Os sinais de Helder

"O que gerou surpresa e chamou a atenção de todos foi a presença, em posição de honra, da Secretária de Cultura do Estado, Ursula Vidal"

Por: Marcelo Braga Neto

Não é segredo de ninguém que asfalto é um produto de grande apelo em ano de eleições. Também não é segredo que o governador do Estado, Helder Barbalho, precisa consolidar sua base e expandir seu raio de domínio na capital, perímetro onde perdeu a eleição de 2016. Em uma cidade de alta carência de infraestrutura como Belém, asfalto prescinde de explicação, dispensa discursos e atalha qualquer necessidade de cognição. É voto líquido.

Por isso não surpreendeu ninguém o lançamento do projeto “Asfalto Por Todo o Pará”, com a presença do governador Helder Barbalho, no distrito de Icoaraci e nos bairros do Guamá e Terra Firme, em Belém. O que gerou surpresa e chamou a atenção de todos foi a presença, em posição de honra, da Secretária de Cultura do Estado, Ursula Vidal.

Caminhando ao lado do governador, com objetivo claro de garantir destaque, a titular da Cultura distribuiu cumprimentos e sorrisos entre animadas conversas com o chefe do executivo estadual sobre detalhes das obras em curso. A ostensividade do ato chamou a atenção da oposição, que em seus blogues questionou a justificativa para que a auxiliar direta do governador na área de cultura estivesse ali a prestigiar um programa que, em tese, não se enquadra em sua pasta. Questionamentos a parte, a resposta é simples: Helder quer fixar a imagem de Úrsula entre os eleitores belenenses, emprestando seu prestígio e sua imagem para isso.

A percepção de que Ursula Vidal, por seu histórico de expressivas votações recentes e pela memorável participação nos debates de 2016, poderia ser a escolha do governador, foi o que a tornou alvo constante de ataques da rede caluniosa de comunicação estruturada por meio de blogues, portais e grupos de whatsapp associados aos adversários de Barbalho, em especial o PSDB, legenda que ocupa a Prefeitura da capital direta ou indiretamente há quase 16 anos. Os ataques a Ursula Vidal e a Helder Barbalho dominaram a pauta e agenda dessas mídias nos últimos três meses, ao ponto de blogueiros abertamente vinculados aos tucanos comemorarem a adesão do PT à candidatura de Edmilson Rodrigues, do PSOL, que vem sendo poupado desde o último trimestre de 2019 de ataques por esses adversários cautelosos.

Para Helder, Úrsula é peça chave. Para o governador, a questão é evitar que o PSDB e aliados continuassem no controle da Prefeitura de Belém. No começo de 2020, surfando num popularidade crescente Barbalho chegou a desenhar um cenário em que poderia ter até três candidaturas de seu agrado: Úrsula Vidal, que vem de expressiva votação para o senado na capital, Lúcio Vale, cuja fidelidade é moeda forte com o governador e Orlando Reis, esse último mais para cumprir compromissos pregressos, já que sua maior votação como vereador não superou 7 mil votos. Caso esse projeto fosse adiante, a poderosa máquina estadual só entraria para valer no segundo turno.

No entanto, o mundo girou ao contrário. A queda de popularidade de Helder Barbalho devido a escândalos produzidos por uma operação de legalidade duvidosa da Polícia Federal envolvendo a compra de respiradores, a saída de Lúcio Vale da disputa após ser vítima de outra investida da PF e o nanismo eleitoral de Orlando Reis colocam Úrsula Vidal na infantaria da recuperação de imagem do governo e na disputa decisiva da capital para quem almeja a reeleição em 2022.

Vidal tem mais do que a simpatia do chefe do Executivo estadual. Tem viabilidade eleitoral. “Ursula e Helder não resultam em uma soma, mas em uma multiplicação”, diz o paraense Sérgio Oliveira, analista político radicado no Rio de Janeiro. “Ao dar protagonismo em sua agenda para sua auxiliar, Helder mostra que optou por uma candidatura progressista, mas moderada, que dialoga com todos os públicos e traz, ela própria, sua bagagem de votos. Desde quando se lançou na política, Ursula sempre esteve bem posicionado em pesquisas. Ela se filiou ao Podemos, partido muito próximo do MDB, seguindo os indicativos do próprio governador. Ursula sairá grande. E o governador percebeu que não dá mais pra esperar o segundo turno. A eleição será curta, em meio a uma pandemia e com exígua a distância entre o primeiro e o segundo. Quem vacilar no primeiro turno, não terá chances de se recuperar depois”.

O histórico de Úrsula é invejável. Seu primeiro teste nas urnas aconteceu em 2016, quando disputou a prefeitura de Belém, pela Rede, chegando em 4º lugar, com 79,968 votos (10,29%) dos votos válidos. Votação que surpreendeu pela pequena estrutura de seu partido e pouquíssimo investimento financeiro em comparação aos outros adversários. O blogueiro Branco, que vem analisando o cenário de disputa na capital, destaca que Ursula “conseguiu nas disputas eleitorais sair do reduto acadêmico, mais elitizado, para simpatizar com os eleitores de outras camadas sociais. As ideias e propostas de Vidal foram bem-aceitas, além de sua ótima comunicação e oratória. Seu índice de rejeição é baixo, apesar de ter crescido a cada disputa, o que é natural pela exposição e escolhas e cenários”.

Escolhida pelo governador, Ursula Vidal é forte candidata, largando em posição de real competitividade com Edmilson Rodrigues, que liderou e perdeu as duas últimas eleições, com Eder Mauro, que representa a direita mais extremada, e mesmo com o ainda desconhecido candidato de Zenaldo Coutinho. Igor Normando, deputado estadual que comanda o Podemos, destaca: “Nossa candidata tem baixa rejeição, apoio do governador e uma base eleitoral própria que seguirá com ela. Por outro lado, o alto índice de rejeição do prefeito deverá ser transferido ao candidato que escolher, embora não possamos menosprezar o peso da máquina, sempre decisiva numa eleição dessa envergadura. Será uma eleição emocionante, onde Úrsula se destacará por suas ideias, por seu carisma e por seu portfólio de realizações, demonstrada à frente de Secult”.