Autoridades da Turquia e da Síria informaram nesta quinta-feira (09/02) que já passa de 16 mil o número de mortos pelo terremoto que atingiu na madrugada de segunda uma região de fronteira entre os dois países. Trata-se do terremoto mais mortal a atingir a Turquia desde 1999.
O tremor de magnitude 7,8 na escala Richter sacudiu o sudeste da Turquia e o noroeste da Síria. No quarto dia de buscas, o governo turco disse que o número de vítimas ultrapassou os 12.800. Do lado sírio da fronteira, o total de mortos já passa de 3.160.
Equipes de resgate correm contra o tempo para retirar pessoas dos escombros, e as chances de encontrar sobreviventes diminuem a cada hora. As buscas iniciais foram dificultadas por uma tempestade de neve que cobriu estradas importantes com gelo e neve e deixou inoperáveis três aeroportos-chave na área, complicando entregas de auxílio vital para as regiões de afetados. O número de feridos passa de 60 mil na Turquia, segundo a agência noticiosa DPA, e o de mortos deve continuar a subir.
Por outro lado, sobreviventes continuam sendo retirados dos escombros, apesar de alertas de especialistas em desastres de que as chances de encontrar pessoas com vida caiam dramaticamente após as 72 horas iniciais após o sismo.
O abalo ocorreu às 4h17 (horário local) na segunda-feira, e seu epicentro foi próximo à capital da província de Gaziantep, um importante centro industrial no sudeste da Turquia. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o epicentro ocorreu a uma profundidade de 18 quilômetros. O terremoto inicial foi seguido por dezenas de réplicas, incluindo um tremor de magnitude 7,5.
O terremoto inicial, de intensidade 7,8 na segunda-feira, também foi sentido na capital turca, Ancara, no Líbano, no Chipre e até na capital egípcia, Cairo. Milhares de edifícios desabaram em uma ampla área de centenas de quilômetros, desde o norte da Síria – palco de uma guerra civil há quase 12 anos –, em cidades como Aleppo, até o sudeste da Turquia, onde foi afetada a maior cidade da região, Diyarbakir.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que o número de mortos deve subir significativamente devido à grande quantidade de prédios danificados, podendo chegar a cerca de 20 mil nos próximos dias.
O representante regional de emergência da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Rick Brennan, afirmou que a agência da ONU enviou reforços para sua equipe em Gaziantep e disse que os trabalhos de resgate foram prejudicados pelos tremores secundários.
Sobre a Síria, Brennan afirmou que o terremoto é mais uma tragédia que se soma à crise humanitária que atinge o país, que enfrenta graves problemas econômicos e um surto de cólera. "A convergência de todas essas crises está causando um enorme sofrimento."
Sob controle do regime sírio, a cidade de Aleppo registrou vários tremores secundários. A DW conseguiu falar por mensagens de WhatsApp com uma moradora de 30 anos que não quis citar o nome por questões de segurança.
"A maioria das pessoas que estão ajudando a retirar as pessoas dos escombros são civis. Grande parte não tem formação para fazer trabalho de resgate. É muito perigoso. A qualquer momento, eles podem ser soterrados", explicou a testemunha, que disse sentir a terra tremer a toda hora. "Talvez também seja apenas o meu corpo, estou em choque."
"Precisamos urgentemente de doações de sangue. Já pediram a todo mundo aqui para doar sangue porque o número de feridos aumenta a toda hora", descreveu. "Pediram para as pessoas aqui em Aleppo para que deixem suas casas, mas quase ninguém saiu. Não sabem para onde ir e também não têm dinheiro para ficar num hotel", disse.
Na Turquia, o governo declarou estado de emergência em dez províncias. As baixas temperaturas e a neve na região, onde também há territórios montanhosos de difícil acesso, dificultam os trabalhos de resgate.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram prédios destruídos em várias cidades do sudeste do país. A emissora estatal RTR mostrou os trabalhos de resgate na província de Osmaniye, que correm contra o tempo em busca de sobreviventes nos escombros.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que estava em contato com as autoridades locais das regiões afetadas para se informar sobre a situação. "Espero que possamos superar esse desastre juntos o mais rápido possível e com o mínimo de danos", afirmou Erdogan em redes sociais.
O abalo sísmico, segundo Erdogan, é um dos mais devastadores da história recente da Turquia. "É o segundo mais forte, desde o terremoto de Erzincan, de 1939", acrescentou.
O presidente afirmou que foram registrados desabamentos ou danos graves em mais de 6.400 imóveis residenciais. Um dos símbolos da enorme destruição do tremor é o histórico castelo romano de Gaziantep, que havia sido erguido há mais de 1.700 anos. A CNNTurk mostrou imagens do castelo severamente danificado.
Na Síria, em guerra civil há mais de uma década, as províncias mais atingidas foram Hama, Aleppo e Latakia. A zona devastada se divide entre o território controlado pelo regime de Damasco e o último enclave nas mãos da oposição, que está cercado por forças do governo, apoiadas pela Rússia.
"A situação é muito trágica, dezenas de prédios desabaram na cidade de Salqin", afirmou um integrante dos Capacetes Brancos, uma organização síria de resgate, em vídeo divulgado nas redes sociais. A cidade citada fica a cinco quilômetros da fronteira com a Turquia.
"Famílias inteiras estão soterradas e os Capacetes Brancos não conseguem chegar até elas. Faltam equipamentos para resgatar os sobreviventes em diferentes locais ao mesmo tempo", afirmou Omar Albam, repórter da DW na Síria. "No momento, não há nenhuma estimativa confiável sobre número de mortos. O caos domina tudo e ainda está confuso", contou.
Segundo Albam, a pequena cidade de Samada, a 30 quilômetros de Idlib e próxima da fronteira com a Turquia, foi uma das mais atingidas pelo sismo no país. A cidade teria sido completamente destruída pelo terremoto. Mas também a cidade de Jindires, a 20 quilômetros a sudoeste de Afrin, foi fortemente atingida, com danos severos às conexões de internet e celulares.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, realizou uma reunião de gabinete de emergência para avaliar os danos e discutir as medidas a serem adotadas.
A emissora estatal síria mostrou imagens de socorristas buscando por sobreviventes nos escombros em meio à chuva forte e granizo. Muitos prédios na região afetada já haviam sofrido danos devido à guerra civil no país que já dura quase 12 anos.
Vários países ofereceram ajuda à região afetada. A União Europeia (UE) afirmou que enviará ao menos dez equipes de resgate para a Turquia. O comissário europeu de Gestão de Crises, Janez Lenarcic, disse que Bruxelas ativou o Mecanismo de Proteção Civil do bloco. Equipes da Holanda, Romênia, Croácia, República Tcheca, França, Grécia, Bulgária e Polônia já foram deslocadas para o local atingido.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, sublinhou que o bloco europeu está "pronto para ajudar" os países afetados após um "devastador" sismo, que "já ceifou a vida de centenas de pessoas e feriu muitas mais".
A Alemanha enviou ajuda de emergência e suprimentos de primeiros socorros, incluindo abrigos e estações de tratamento de água. Já os Estados Unidos mobilizaram uma equipe de especialistas em resposta a desastres. Itália e Hungria também ofereceram ajuda.
Ao todo, pelo menos 45 países ofereceram apoio, entre eles a Índia, China, Rússia, Ucrânia e Israel.
A Turquia está situada numa das zonas sísmicas mais ativas do mundo. Em novembro, um sismo de magnitude 5,9 atingiu a província turca de Düzce, a 200 quilômetros ao leste de Istambul, deixando pelo menos 68 feridos.
Em 1999, um terremoto de magnitude 7,4 que atingiu Izmit deixou mais de 17 mil mortos. Em 2011, um sismo na cidade de Van deixou 500 mortos.
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cn/rk (Reuters, AP, Lusa)
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