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Opinião

IdealPolitik - Olavismo entre reforma ou revolução

Por: Leopoldo Vieira, CEO da IdealPolitik

-- O assessor de assuntos internacionais do bolsonarismo, o olavista Filipe Martins, publicou uma análise nas redes sociais que foi entendida como sintoma de que o Centrão pode estar sendo vítima (e não algoz) de um Cavalo de Troia do presidente Jair Bolsonaro. Para Martins, "Caso aceite o jogo de aparências para agradar aqueles que querem negar aos conservadores que apoiam o governo até o direito de existir, o PR terá dificuldades para cumprir o que o povo espera dele. Caso cumpra o que o povo espera dele, não terá como agradar o establishment"; e "Só será possível avançar se fizermos da denúncia da natureza vil do poder do establishment a nossa maior arma e esmagarmos as aparências, deixando de lado as notinhas polidas e expusermos de modo claro e direto os métodos criminosos que muitos usam para se manter no poder".

-- Os trechos expressam perfeitamente o comportamento recorrente do presidente da República, indicando que este concorda com a ala ideológica no aconselhamento que dela recebe. Também revelam divergência interna ao governismo a respeito de como proceder nos acordos com o Congresso e nas relações com os poderes e, principalmente, se servirão para realmente permitir a Bolsonaro governar ou justificarão que seja castrado o viés conservador do governo. O problema de Martins é dar razão a Clausewitz sobre ser a política ser a guerra por outros meios. Esta é uma ideia de política, que, realmente, é a relação de poder que as pessoas estabelecem entre si e com o meio. Não à toa, Aristóteles chamou o homo sapiens de Animal Político - exatamente pela socialização inerente à espécie.

-- O sábio grego, cuja cabeça sustenta a ideia de Ocidente que o olavismo combate, falava em "justa medida" nesta socialização, o meio termo de todas as ações que traria realização a todos. E acontece que as pessoas que ocupam os cargos que conformam os poderes responsáveis pelo Check & Balances do Poder Executivo, sim, acreditam que o programa integral do presidente Bolsonaro não é realizável na democracia à brasileira. E não o seria nem por revolução (ou golpe), haja vista que apenas mudariam as formas e os canais pelos quais as visões antagônicas resistiriam.

-- Isso quer dizer que a restauração conservadora pregada terá que ser processual, restando ao bolsonarismo decidir apenas como se integrar ao establishment, percorrendo o mesmo caminho que Olavo de Carvalho profetizou que seria fatal ao PT: disputar espaços institucionais e na educação, e discursar contra o sistema. Vai ter que disputar hegemonia, perdendo pureza a cada concessão. Fora disso, será um agrupamento marginal em longo prazo.

-- É fato que "a vitória de um outsider só ocorre quando ele é capaz de remover o véu e expor publicamente a violência e a feiura escondidas por trás dessa tática de ocultação, revelando as condições concretas que corroem os próprios valores que o establishment dissimuladamente diz defender", no entanto esta vitória expressa apenas que a sociedade quer que tal ponto de vista seja cooptado pelo poder, dando a oportunidade destas novas forças se consolidarem como ofertas nas prateleiras da representação política e seu perfil de base social obter um voucher para a alquimia que torna ativistas em autoridades estatais.

-- Martins sabe que há "50 tons" entre os extremos de aceitar "o jogo de aparências para agradar o establishment" e "cumprir o que o povo espera de Bolsonaro", o que ele faz é demarcar o espaço do olavismo como a ala direita do governo, na lógica da Estratégia da Aproximação Sucessiva, que o presidente da República aplica, sob inspiração de Olavo, dentro da gestão e para fora dela. A técnica funciona assim: Bolsonaro avança 100 casas, recua 50, preservando 50. Progressivamente. Até chegar próximo de onde deseja. É um expediente irmão da Janela de Overton, que para levar a opinião pública para uma posição que ela discorda, agrega um elemento externo que aproxima o "discordo" do "concordo". Neste caso, usado ao reverso, diferente de como o chefe do Executivo começou sua gestão.

-- O papel que Martins efetivamente cumpriu no Twitter foi de aproximar os apoiadores mais radicais de Bolsonaro do acordo com o Centrão, mobilizando-os para a noção de "governo em disputa". A questão é saber se os olavistas toparão ser a direita que o centro gosta. E se os militares perderão a oportunidade da crise para mostrar sua capacidade técnica e emprestar seu prestígio para uma coordenação interfederativa e interpoderes para a retomada segura, dobrando a aposta em passar o pano a cada ciclo de maior e menor tensão institucional e no risco político, conforme beabá operacional da ala ideológica. O que já está claro é que o STF não repetirá o papel que teve em 64, até porque parece que o Congresso terceirizou à Corte o que desempenhou em 1992 e 2016.

-- Time is politics.

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*Leopoldo Vieira, paraense radicado em Brasília, 36 anos, é jornalista, analista político, especialista em Administração Pública e chefe-executivo da IdealPolitik, agência de análise e assessoria.