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Poder

Um PSDB rachado congela as prévias presidenciais por problemas na votação

Estavam aptos a votar 44.700 filiados, mas nem caciques do partido conseguiram apontar seus candidatos, por defeito em aplicativo. Não tem data para terminar a disputa fratricida entre os governadores João Doria e Eduardo Leite

Celular com a plataforma virtual de votação das prévias do PSDB, que não funcionouO PSDB não conseguiu decidir neste domingo quem vai representar o partido na próxima eleição presidencial. A disputa entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio como coadjuvante, foi congelada por problemas no aplicativo de votação. Estavam aptos a votar 44.700 filiados ao PSDB, incluindo deputados federais e estaduais, senadores, governadores, prefeitos e vereadores. Mas nem os maiores expoentes do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador licenciado José Serra, teriam conseguido apontar seus candidatos favoritos. A incerteza estende por mais alguns dias o clima fratricida instalado no partido desde o início da corrida entre Doria e Leite.

“O processo de votação em aplicativo encontra-se pausado em razão de questões de infraestrutura técnica, que não comportou a demanda dos votantes das prévias”, explicou o partido em nota, acrescentando que “os votos registrados neste domingo estão preservados”. Os tucanos não sabem, contudo, quando o processo será retomado, o que poderia acontecer nesta segunda-feira ou apenas em 2022. E esse é apenas um dos problemas com que o partido tem de lidar no momento. A disputa, que nem sequer terminou, já deixou feridas. Neste domingo, em meio à dificuldade de votar, eleitores tucanos dos dois governadores se acusaram mutuamente de tentativa de compra de votos. A deputada Mara Rocha, do Acre, que está de saída do PSDB para o PL, disse que foi proibida de votar e que lhe ofereceram dinheiro para optar por Doria.

Na última semana, o grupo ligado ao governador de São Paulo vazou um diálogo que ele teve com Leite no início do ano. Em síntese, o governador gaúcho teria pedido, em janeiro de 2021, para o seu colega paulista adiar o início da vacinação contra covid-19 em São Paulo, para que fosse possível seguir um plano nacional. Leite atendia a um pedido do então ministro da secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Doria, que usa a produção da vacina pelo Instituto Butantan como bandeira de campanha, relatou o diálogo ao jornal O Globo e alegou que iniciaria a vacinação assim que a Coronavac tivesse autorização da Anvisa, o que de fato ocorreu, em 17 de janeiro. Já Leite alega que só relatou ao seu colega o pedido feito pelo ministro Ramos.

Independentemente de qual versão procede, os grupos ligados aos dois governadores racharam. Essa divisão deverá influenciar na atuação do PSDB no Congresso Nacional, que oscila entre apoiador do Governo e oposição. Ultimamente, até em pautas em que a direção do partido orientava votar contra a Gestão Bolsonaro, boa parte dos deputados votava a favor, como na questão do voto impresso ou a PEC dos Precatórios. Em dezembro, haverá a escolha do novo líder do partido na Câmara. O atual, Rodrigo de Castro, é ligado ao deputado Aécio Neves, apoiador de Leite. No grupo de Doria, pleiteiam o cargo os deputados Samuel Moreira e Eduardo Cury. No Senado, a divisão estaria entre o atual líder Izalci Lucas, que está com Doria, e Tasso Jereissatti, que abriu mão de disputar as prévias para dar suporte à candidatura de Leite.

Uma outra questão que terá de ser resolvida pelos tucanos trata da influência do ex-presidenciável Aécio Neves na legenda. Ele flerta com o bolsonarismo e já defendeu que o partido não tivesse candidato próprio em 2022, para fortalecer sua bancada no Congresso. Hoje, o PSDB tem 32 deputados federais. É o sétimo partido entre os 22 da Casa. Nos tempos áureos do tucanato, quando Fernando Henrique Cardoso presidiu o país, eram 99 deputados. Era o segundo maior partido da Câmara, atrás apenas do seu antigo coirmão PFL, atual DEM.

A ladeira do PSDB ficou mais íngreme de 2014 para cá, quando Neves perdeu por uma diferença de 3,28% dos votos a presidência para Dilma Rousseff (PT) e colocou em dúvida a apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O questionamento foi uma faísca para que Bolsonaro criasse suas falsas teses sobre a insegurança das urnas eletrônicas, que o animou à sustentar que teria vencido o pleito de 2018 ainda no primeiro turno, caso não tivesse ocorrido fraude na apuração dos votos.

Por interferência de Aécio, que Doria já tentou em vão expulsar do partido, há um grupo do PSDB que também discute lançar um nome a vice em alguma chapa. Com a entrada do ex-juiz Sergio Moro na disputa, cresce o movimento para que os tucanos indiquem o vice de sua chapa para 2022. O mesmo cargo também é pleiteado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. A perda de protagonismo do PSDB é tal que as legendas do Centrão que costumavam se aproximar do partido nas vésperas da eleição nem cogitam mais essa possibilidade. A tendência é que os três principais partidos desse grupo (PL, PP e Republicanos) sigam com o presidente Jair Bolsonaro, assim que ele decidir a qual sigla se filiará.

Terceira via

Além de tentar reagrupar os tucanos, o vencedor dessas prévias será o responsável por seduzir os partidos que hoje não querem nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem o presidente Bolsonaro, no que se convencionou chamar de terceira via. Pelas últimas pesquisas, nem Dória nem Leite —ambos eleitores de Bolsonaro em 2018— teriam essa capacidade no momento. Nos cenários em que foram apontados como candidatos, tanto o governador paulista quanto o gaúcho chegaram no máximo a 4% dos votos.

A terceira colocação atualmente estaria em um empate técnico de Sergio Moro (Podemos) com o ex-governador Ciro Gomes (PDT), que oscilam com 5% e 8% da preferência eleitoral, conforme o instituto de pesquisa e o cenário testado. A terceira via é hoje uma estreita rua supercongestionada. Há pelo menos sete pré-candidatos espremidos entre Lula e Bolsonaro. Além de Ciro e Moro, também tentam emplacar a candidatura o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), os senadores Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania), e os ex-ministros Mandetta (DEM) e Aldo Rebelo (sem partido).

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