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Alerta de desertificação da Amazônia é 'mesma xaropada de sempre', diz Bolsonaro

Fala acontece um dia após a revelação de que o governo segurou divulgação dos dados de desmatamento

Floresta amazônica é desmatada na região de Apui, no sul do AmazonasO presidente Jair Bolsonaro minimizou nesta sexta-feira (19) os dados de desmatamento na região da Amazônia, afirmando que esses números se referem à parte da floresta anteriormente perdida e que já se regenerou. Bolsonaro também disse que os alertas de desertificação na Amazônia é a "mesma xaropada de sempre".

A fala de Bolsonaro acontece um dia após a revelação de que o governo federal segurou a divulgação dos dados de desmatamento, para não aumentarem as críticas do Brasil durante a realização da COP 26.

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) concluiu os dados de desmatamento da Amazônia em 27 de outubro e inseriu o relatório no sistema eletrônico de informações do governo federal no mesmo dia, segundo fontes do instituto ouvidas pela Folha.

O documento só foi divulgado nesta quinta (18). O relatório com os dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) mostra uma devastação de 13.235 km2 entre agosto de 2020 e julho de 2021, índice mais elevado desde 2006. O número representa um aumento de 22% em relação ao período anterior.

Sem apresentar nenhuma evidência científica, Bolsonaro disse que os dados de desmatamento são resultante de áreas que foram anteriormente destruídas, mas que regeneraram.

"Se todo ano fosse desmatado o que a imprensa mostra, a Amazônia toda já era um deserto", afirmou o presidente, durante sua transmissão semanal pelas redes sociais. Essa foi a primeira fala do presidente após retornar de viagem ao Oriente Médio.

Terra indígena Trincheira/Bacajá, no Pará, perdeu 3969 hectares de floresta em 2020, maior taxa de desmatamento desde a homologação "Passa dois, três anos, o cara desmata de novo. É a mesma área verde e entra como novo desmatamento. Se for pegar a área desmatada ano a ano, dá uma área maior que a Amazônia, levando-se em conta os últimos 20 anos aí", acrescentou.

Bolsonaro também chegou a ironizar estudos recentes que mostram que a Amazônia pode estar atingindo um ponto irreversível em relação ao desmatamento, que pode resultar na desertificação da região. O presidente levou para sua transmissão uma reportagem de 1985, fora de contexto, para falar que alertas anteriores não se concretizaram. Disse que se trata da "mesma xaropada de sempre".

"Olha a matéria de agora: 'Amazônia está perto de ponto irreversível e pode virar deserto'. A mesma xaropada de sempre. Matéria na maioria das vezes patrocinada por brasileiros, que estão trabalhando contra seu país", completou.

O presidente também voltou a repetir que é "alvo de chacota", mas defendeu novamente seu argumento de que a Amazônia não pega fogo, por se tratar de uma floresta úmida. Disse que os incêndios acontecem apenas na periferia e que tudo seria resolvido com seu projeto de lei de regularização fundiária –que não avançou e ambientalistas apontaram que iria incentivar novos avanços sobre a área verde.

O chefe do Executivo revelou que chegou a bater boca com um estrangeiro no aeroporto de Lisboa, que o havia cobrado pela alta taxa de destruição das florestas brasileiras. Disse que um "anãozinho" o cobrou pelo desmatamento da Amazônia e ouviu uma resposta que ele não poderia repetir em transmissão ao vivo.

Relatou que o episódio se deu quando visitava um free-shop do aeroporto de Lisboa, mas que ele não fez compras porque estava tudo muito caro –sem comentar a forte desvalorização do real.

Bolsonaro também disse que "péssimos brasileiros" vão ao exterior para criticar o país e que isso afeta os investimentos brasileiros.

"Enquanto a gente rala feito um desgraçado para levar o bom nome do Brasil pra fora, vão péssimos brasileiros para fora para criticar o Brasil. Falar mentiras sobre a Amazônia, por exemplo. Tem uns caras aí que parece que têm prazer de chegar lá fora e dizer ‘estão tacando fogo na Amazônia’", completou.

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Folha de S. Paulo