Dentro das salas da Cúpula, Bolsonaro apareceu isolado por diversas vezes, conforme o relato de jornalistas que acompanharam a viagem do presidenteMais uma vez uma viagem internacional do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o encontro com outros líderes mundiais não gerou frutos positivos ao Brasil.
Nos ambientes das reuniões da 16ª Cúpula do G20, em Roma, na Itália, o capitão reformado, com um discurso paralelo ao Brasil, apareceu isolado e rodeado apenas por seus pares.
Para o lado de fora, saiu pelos fundos, mentiu em canal de televisão, procurou apoiadores e hostilizou jornalistas, até que seus seguranças agrediram fisicamente profissionais da imprensa.
Um dos homens que fazia a segurança de Bolsonaro socou no estômago e empurrou o correspondente da Globo, Leonardo Monteiro. Antes, o profissional perguntou porque o chefe do Executivo não foi ao encontro do G20 pela manhã, ao que Bolsonaro respondeu: “É a Globo? Você não tem vergonha na cara. (...) Vocês não têm vergonha na cara, rapaz”.
Em outro momento, os seguranças empurraram, torceram o braço e levaram o celular do repórter Jamil Chade, do UOL, que filmava a agressão contra Leonardo Monteiro. Instantes depois, o segurança jogou o aparelho telefônico em um canto da rua.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) disse em nota que "repudia com veemência e indignação as agressões” e que “a violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística”.
Na mesma linha, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disse, em nota, que "o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal".
"Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público”, ressaltou a Abraji em nota.
Em entrevista ao canal italiano SkyTg24, neste domingo (31), Bolsonaro chamou o ex-presidente Lula de “oportunista” por ter sido chamado pelo petista de “genocida”.
“Lula me acusa de genocídio, porque é um oportunista. Conto o último caso que emergiu. O chefe do Serviço Secreto da Venezuela, preso faz pouco tempo, disse que Lula recebia dinheiro e que todas as autoridades de esquerda recebiam financiamentos do narcotráfico, dinheiro enviado também à Espanha.”
Em outro momento, afirmou que a liderança política do ex-presidente começou “com as Farc [Forças Armadas Revolucionária] colombianas. A partir deste momento, começou a sua relação com o narcotráfico”.
Ele ainda disse que Lula tem ligações com “grupos terroristas do mundo todo”. Sobre os governos anteriores ao seu, Bolsonaro disse que "um milagre salvou o Brasil: a nossa chegada em 2018".
O presidente ainda foi questionado sobre o desmatamento da Amazônia. Sobre isso, ele disse que a “Amazônia não está queimando, porque é uma floresta úmida, pega fogo só nas áreas periféricas. Tem também os desmatamentos ilegais que nós combatemos. Tanto é que este ano estamos indo tão bem que a imprensa não diz mais nada sobre isso”.
O presidente ainda afirmou que o Brasil é um “exemplo para o mundo” quando o assunto é crise ambiental e que por ser “diferente” dos presidentes que o antecederam recebe muitas críticas em relação à Amazônia.
Bolsonaro ainda disse que acredita que a decisão de alguns governadores e prefeitos em determinar fechamentos durante a pandemia de covid-19 "piorou a situação" e que "as consequências a gente vê agora". Também afirmou que “o Brasil enfrentou a crise pandêmica e é o país que mais está crescendo na fase pós-pandemia".
Questionado sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid, Bolsonaro afirmou que a CPI é formada por partidos de oposição ao seu governo e que os senadores "não fizeram nada durante a pandemia".
Diferente do que a CPI mostrou, Bolsonaro afirmou que o governo sempre foi a favor da vacina contra a covid-19 e omitiu a demora do governo federal em adquirir os imunizantes, bem como a campanha difamatória contra a imunização que faz desde o início da pandemia, como ter dito que as fórmulas das vacinas “causam Aids”.
Bolsonaro voltou inclusive a defender a autonomia do médico para receitar medicamentos comprovadamente ineficazes pela ciência contra a doença, como cloroquina e ivermectina.
"Acredito que os médicos devam ter autonomia sobre como tratar os pacientes e sobre quais os remédios devem escolher ou para cuidar", afirmou.
Durante reunião plenária sobre economia e saúde do G20, Bolsonaro afirmou, em um discurso que durou poucos minutos, que o Brasil “se comprometeu com um programa extensivo e eficiente de vacinação, em paralelo a uma agenda de auxílio emergencial e preservação do emprego para a proteção dos mais vulneráveis”, e que o governo federal está comprometido com a retomada da economia.
Disse ainda que as economias brasileira e italiana se recuperam à medida em que a pandemia é superada. “Esses dois processos de recuperação caminham lado a lado.”
Bolsonaro, no entanto, preferiu omitir os dados econômicos do Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em 27 de outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 13,7 milhões de pessoas em busca de um trabalho.
Apesar de a quantidade de pessoas ocupadas ter aumentado em 4% no último trimestre, o rendimento médio diminuiu em 4,3%, em relação ao trimestre encerrado em maio, e 10,2% em relação ao mesmo trimestre de 2020, ficando em R$ 2.489.
Ao mesmo tempo, a inflação atinge níveis recordes. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou um aumento em outubro de 0,06 ponto percentual em relação a setembro, 1,20% diante de 1,14%.
Trata-se da maior variação para um mês de outubro desde 1995 e a maior variação mensal desde fevereiro de 2016. No ano, o IPCA-15 acumula um aumento de 8,30% e, em 12 meses, de 10,34%.
Dentro das salas da Cúpula, Bolsonaro apareceu isolado por diversas vezes, conforme o relato de jornalistas que acompanharam a viagem do presidente.
Segundo o profissional Jamil Chade, enquanto Angela Merkel (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Antônio Guterres (ONU) e Ursula van der Leyen (UE) conversavam sobre a garantia da distribuição de vacinas para a comunidade internacional, em um canto da sala, Bolsonaro estava rodeado apenas por seus ministros.
Em outro momento, Scott Morrison (Austrália), Justin Trudeau (Canadá), Narendra Modi (Índia) e Boris Johnson (Reino Unido) entravam em conversas informais, em discrepância ao isolamento do presidente brasileiro.
Para não falar em isolamento total, Bolsonaro conversou por alguns minutos com Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, líder da extrema-direita no país. Depois, por 30 minutos trocou informações com Alberto Fernandez, presidente da Argentina, contra o qual Bolsonaro fez campanha por ser da esquerda. Ainda, rapidamente, o capitão reformado cumprimentou Boris Johnson e Narendra Modi.
Do lado de fora, Bolsonaro foi alvo de manifestações contrárias ao seu governo próximo à embaixada brasileira na Itália, onde está hospedado. O presidente foi chamado de genocida e questionado sobre como “vai explicar a incompetência governo”, gritou um dos manifestantes. O ministro da Economia, Paulo Guedes, que viajou ao lado do presidente, também foi vaiado.
Em Anguillara Veneta, no norte da Itália, aproximadamente 200 pessoas participaram de um protesto nesta segunda-feira (1º) contra a concessão de cidadão honorário, aprovada pela Câmara Municipal, para Bolsonaro.
Na semana passada, a sede da prefeitura foi pichada com a frase "Fora Bolsonaro" e vandalizada com esterco de porco por um grupo de ambientalistas contrários ao presidente.
O vereador de oposição Antonio Spada afirmou, nesta segunda, que a “a cidadania é inoportuna porque as posições de Bolsonaro não espelham os valores de nossa Constituição".
Na mesma linha, o padre Massimo Ramundo, disse que Bolsonaro “não se ocupa da defesa das minorias, a partir dos indígenas da Amazônia. E o Papa não se cansa de nos lembrar da importância do bem comum, enquanto Bolsonaro faz o que quer na Amazônia".
A maioria dos líderes mundiais que se reuniram para a Cúpula seguem agora para Glasgow, na Escócia, para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26). Bolsonaro, entretanto, segue para um encontro com o ex-ministro do Interior Matteo Salvini, líder da extrema-direita italiana, e depois retorna ao Brasil.
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Brasil de Fato
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