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Poder

'Custo-Bolsonaro': fiasco econômico estremece jogo político, enfraquece Guedes e afasta aliados

Alta da inflação, escândalos de corrupção e preocupação com reeleição são elementos de destaque no atual cenário

Desgastado, Guedes incomoda não só oposição, mas também setores da direita liberal, tradicionais aliados do governo BolsonaroEm apuros diante do estrago econômico que se avoluma no país, o governo Bolsonaro vê o Ministério da Economia se despedaçar em meio à crescente perda de confiança e prestígio do titular da pasta, Paulo Guedes, dentro e fora da gestão. 

Braço forte da espinha dorsal do governo, o mandatário enfrenta críticas cada dia mais contundentes e insiste no arrocho fiscal, ao mesmo tempo em que contribui para afastar aliados da agenda de Bolsonaro no Congresso Nacional por não ter entregue o que prometeu ao longo do mandato.  

A crise em torno da pasta tem como pano de fundo um mosaico de diferentes elementos. Têm destaque a alta da inflação e do custo de vida no país, o aumento exponencial do desemprego ao longo da gestão e a recente polêmica dentro do governo sobre o valor a ser aplicado para o Auxílio Brasil, programa social que deve substituir o Bolsa Família.

“É uma situação complicada. O ministro Paulo Guedes está em baixa dentro do Congresso já tem um tempo. Pra onde você olha, a situação do ministro está difícil”, resume o cientista político Leonel Cupertino, que acompanha diariamente as articulações no Legislativo e atua na área de consultoria política. 

Após o pedido de exoneração anunciado na quinta (21) à noite por quatro dos secretários diretamente subordinados a Guedes na pasta, cresceram as especulações em torno de possível exoneração do mandatário.

“A debandada é um péssimo sinal pro Brasil. É o derretimento do Ministério da Economia como a gente conhecia, guardião da âncora fiscal. E agora o que vem por aí não se sabe”, analisa Cupertino, ao sinalizar que o cenário se torna cada dia mais politicamente insustentável para a manutenção de Guedes no governo.

Paralelamente, o ministro tenta despistar as suspeitas de que pode deixar a pasta a qualquer momento. Em coletiva na tarde desta sexta (22) na companhia de Bolsonaro, o mandachuva da Economia também acenou para o populismo que marca a conduta do presidente da República.  

“O teto é um símbolo de austeridade para as gerações futuras, mas não vamos deixar a população passar fome para tirar 10 na política fiscal”, disse.

A manifestação se alinha à ideia de implantação do Auxílio Brasil – visto no mundo político como iniciativa voltada à tentativa de reeleição de Bolsonaro em 2022 – e ao benefício de R$ 400 de “auxílio-diesel” para caminhoneiros, anunciado nos últimos dias por Bolsonaro.  

“Do ponto de vista fiscal, isso não abala os fundamentos fiscais da economia brasileira”, completou Guedes, em uma tentativa de apagar o incêndio que hoje circunda o governo por conta do tema.

Afastamento e críticas

Enquanto divergências relacionadas ao Teto dos Gastos marcam as tratativas entre a ala econômica e a ala política do governo, alguns personagens desta última começam a dar sinais de distanciamento da gestão. 

A conduta é associada ao fiasco econômico gerado pela cartilha ultraliberal de Guedes – cujos resultados passaram a constranger aliados do governo diante de suas bases eleitorais nos estados –, que estremeceu o cenário político nos últimos tempos, mas também pelos escândalos de corrupção que cercam o ministro, o presidente da República e seu clã. 

“Eu não vejo exatamente entre a maioria dos parlamentares um clima para impeachment do Bolsonaro, por exemplo, mas já está um tanto claro que vários integrantes da base aliada hoje evitam se associar diretamente à figura do presidente e detestam o Guedes, que eu entendo que está fritando”, disse ao Brasil de Fato um deputado federal do MDB que não quis se identificar. O partido é alinhado com o governo no Congresso em diferentes agendas.

Siglas como o PSDB, cuja cúpula nacional anunciou recentemente a ida para o campo da oposição, ainda enfrentam resistências internas para que a legenda aja de fato segundo essa linha.

Levantamento publicado no último dia 14 pela Agência Estado mostrou, por exemplo, que a bancada do partido na Câmara passou a votar de forma ainda mais favorável à agenda de Bolsonaro e Guedes após o anúncio do partido de que pularia para o bloco da oposição.

O veículo mostrou que um mês depois da mudança de posição – anteriormente, a sigla se definia como “independente”, apesar do apoio a diferentes pautas do governo – as orientações de votos repassadas pelo líder do PSDB, Rodrigo de Castro (MG), aos correligionários na Câmara esteve 87% de acordo com as orientações do líder do governo na Casa, Ricardo Barros (Progressistas-PR). No mês anterior, o alinhamento esteve em 75,7% das pautas.

Apesar disso, Castro também vem dando sinais de insatisfações com a postura de Guedes e a condução econômica do governo Bolsonaro. Na quinta (22) à noite, por exemplo, após as exonerações na pasta, o deputado tucano fez um aceno nesse sentido pelas redes sociais.

“Momento muito grave: debandada na equipe do Ministério da Economia, inflação em alta, dólar subindo, bolsa despencando e a constatação de que o ministro Paulo Guedes perde, cada vez mais, as rédeas da política econômica. Preocupante”, disse, via Twitter, sem, no entanto, afrontar diretamente Bolsonaro. 

Oposição

Se de um lado Guedes incomoda a ala política da gestão porque ora barra pautas de interesses mesmo de deputados governistas por razões fiscais ou porque, em outros momentos, atropela o Teto de Gastos para satisfazer as empreitadas populistas de Bolsonaro, em outra medida, o ministro também é alvo da oposição. Neste último caso, desde o início do mandato, e não por mudança recente de postura. 

Para o líder do segmento na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), a insatisfação hoje observada entre integrantes do Poder Legislativo que desde o princípio apoiaram as medidas propostas por Bolsonaro e Guedes era esperada.

“A fatura começou a chegar. Começou a chegar a conta desse apoio com todos os efeitos e problemas na economia – desemprego, inflação. Os aliados do governo tentam, com essas críticas, se descolar desses problemas, mas será insuficiente porque o eleitor não entende isso. Ele entende quem está com o governo e quem está contra o governo. É impossível ser governo e só ter o bônus, e não o ônus”.

A postura dos aliados ou ex-aliados de Bolsonaro no Congresso que tentam se desvencilhar da imagem da gestão é vista, nos bastidores, como um ensaio pré-eleitoral. A conduta acompanha a queda na popularidade do presidente e a deterioração econômica causada pela política de Guedes.

“Reafirmo que esse comportamento de determinados membros da base aliada não vai funcionar. Não há como separar o governo dos seus resultados econômicos e políticos. E não adianta botar a culpa na pandemia porque vários outros governos do mundo enfrentaram a pandemia e tiveram resultados muitos melhores”, afirma Molon.

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Brasil de Fato