Queimada em uma área na zona rural de Apuí, no sul do AmazonasA Amazônia brasileira registrou em agosto de 2021 mais de 28 mil focos de queimadas —o terceiro pior resultado para o período nos últimos 11 anos. Os números, disponibilizados nesta quarta (1º) pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), só ficaram atrás dos registrados em 2019 e 2020, os dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Os incêndios no bioma costumam estar associados ao desmatamento. O fogo é usado para queimar a vegetação derrubada —e que foi deixada secando— e para limpar pastos.
Desde o final de junho um decreto presidencial veta o uso de queimadas para fins agrícolas e/ou em florestas no país.
O recorde de incêndios para agosto aconteceu há dois anos, quando foram mais de 30 mil focos de queimadas na região. Na ocasião, ocorreu o chamado "dia do fogo", quando proprietários de terra combinaram incêndios simultâneos na região de Novo Progresso (no sul do Pará), segundo apontam as investigações sobre o caso.
A ação começou por volta do dia 10 daquele mês e acabou chamando a atenção internacional. Na época, tanto o presidente francês, Emmanuel Macron, quanto a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, se manifestaram publicamente sobre o tema e pediram providências para conter a destruição da floresta.
As queimadas do “dia do fogo” na Amazônia e em outros biomas (inclusive em países vizinhos) chegaram a escurecer até mesmo o céu da cidade de São Paulo —que fica a 2.000 km de Novo Progresso.
O segundo lugar no ranking dos incêndios na Amazônia de agosto do ranking pertence a 2020, com mais de 29 mil focos de queimadas no mês.
Dados recentes do MapBiomas Fogo (projeto criado por uma série de ONGs para monitorar o assunto) apontam que, nos últimos 36 anos, Amazônia e cerrado foram os biomas que mais queimaram no Brasil.
Ao todo, nesse período, quase 20% do território brasileiro foi atingido pelo fogo. Anualmente, os incêndios consomem 1,8% do território nacional, uma área do tamanho da Inglaterra.
Historicamente, as queimadas no país começam a ser feitas entre junho e julho e chegam ao auge em setembro —durante o período de seca, portanto.
Dados apontam que os incêndios registrados no país nesse período concentram-se em áreas de vegetação nativa e costumam ocorrer dentro de propriedades particulares. Assim, é possível determinar quem é o dono do terreno onde aconteceu a queimada.
Desde o início de seu governo, Bolsonaro vem sendo criticado por algumas de suas declarações sobre o tema, como quando ele minimizou o desmatamento ou quando defendeu de maneira reiterada a liberação de mineração em terras indígenas.
O presidente brasileiro chegou a afirmar, sem provas, que os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento não eram reais e a acusar o então diretor do órgão, Ricardo Galvão, de estar a “serviço de alguma ONG".
Os dados de queimadas também já foram colocados em dúvida, mais uma vez sem provas, por Hamilton Mourão (PRTB), vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia.
Em outras oportunidades, Bolsonaro chegou a afirmar que a Amazônia não pega fogo. De fato, incêndios naturais não fazem parte das dinâmicas do bioma, que é úmido. Portanto, quando há fogo na mata nativa, ele normalmente é fruto de ação humana e, por vezes, criminoso.
Mesmo com as críticas —nacionais e internacionais— e os dados que mostram um aumento dos crimes ambientais durante a atual gestão, o governo não apresentou uma estratégia para resolver o problema.
Pelo contrário, o governo Bolsonaro descontinuou o PPCDam, plano contra desmatamento com mais de uma década que tinha ajudado a baixar os altos níveis de destruição do começo do século.
A principal aposta do presidente para conter o desmatamento até o momento tem sido no trabalho das Forças Armadas na Amazônia. A atuação do Exército na região, porém, não tem apresentado resultados —dados mostram de desmate e de queimadas mostram que a destruição da floresta segue em um patamar alto.
Além disso, a ação dos militares também tem sido criticada por seu custo, especialmente na comparação com a falta de verbas para os órgãos especializados em combate a crimes ambientais, que estão sucateados.
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Folha de São Paulo
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