Ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a inclusão de Bolsonaro como investigado no inquérito das fake newsO presidente Jair Bolsonaro enviou ao Senado nesta sexta-feira (20/08) um pedido de impeachment do ministro Alexander de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O requerimento diz respeito a atuação de Moraes no chamado inquérito das fake news, que foi aberto em 2019 pelo então presidente do STF, ministro Dias Toffoli. Um funcionário do Palácio do Planalto entregou o pedido, que foi protocolado e será analisado pelos senadores.
No pedido, assinado pelo presidente e pelo advogado-geral da União, Bruno Bianco, Bolsonaro pede a destituição de Moraes e a inabilitação do ministro para exercer cargos públicos durante oito anos.
O STF reagiu com a divulgação de uma nota oficial na qual repudia a atitude do presidente que, segundo o órgão, contraria os princípios do Estado democrático de direito.
"O Supremo Tribunal Federal, neste momento em que as instituições brasileiras buscam meios para manter a rigidez da democracia, repudia o ato do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de oferecer denúncia contra um de seus integrantes por conta de decisões em inquérito chancelado pelo Plenário da Corte", diz o texto.
"O Estado Democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo legal", prossegue a nota, redigida em nome de todos os ministros da corte.
"O STF, ao mesmo tempo em que manifesta total confiança na independência e imparcialidade do Ministro Alexandre de Moraes, aguardará de forma republicana a deliberação do Senado Federal.”
Bolsonaro já havia ameaçado abrir processos relacionados as condutas de Moraes e do ministro Luis Roberto Barros. O presidente os acusa de extrapolar os limites da Constituição. Ele porém, acabou excluindo o nome de Barroso.
Jair Bolsonaro é alvo de quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal, além de outro no Tribunal Superior Eleitoral.
No início do mês, Moraes determinou a inclusão do presidente como investigado no inquérito das fake news, após os constantes ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e à urna eletrônica. A inclusão ocorreu após um pedido aprovado por unanimidade pelos ministros do TSE.
Nesta quinta, Bolsonaro ingressou no STF com uma ação a fim de impedir o tribunal de abrir inquérito "de ofício", ou seja, por iniciativa própria e sem pedido do Ministério Público Federal.
A ação foi apresentada pela Advocacia-Geral da União (AGU) depois de Bolsonaro se reunir com Bruno Bianco no Palácio do Planalto. Ela mira o inquérito das fake news, que foi aberto "de ofício" em março de 2019 por Dias Toffoli.
A abertura se deu com base no artigo 43 do regimento interno do Supremo, que afirma: "Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro".
O pedido de impeachment de Moraes foi enviado na mesma data em que Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ), e dias depois da prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, também aliado do presidente. Todas essas operações foram autorizadas por Moraes.
No pedido, Bolsonaro afirma que as ações do ministro "transbordam os limites republicanos aceitáveis”, e alega que Moraes não "tem a indispensável imparcialidade para o julgamento dos atos” envolvendo o nome do presidente.
O ministro "comporta-se de forma incompatível com a honra, a dignidade e o decoro de suas funções, ao descumprir compromissos firmados ao tempo da sabatina realizada perante o Senado Federal”, segundo consta no documento enviado ao Senado.
Para Bolsonaro, Moraes se comporta "como um juiz absolutista que concentra poderes de investigação, acusação e julgamento”.
Ele ainda menciona no pedido o fato de Moraes ter acolhido a notícia-crime do TSE e ter decidido investigá-lo por suposto vazamento de dados sigilosos de inquérito da Polícia Federal referente a um ataque de hackers ao Tribunal Superior Eleitoral em 2018.
"A notícia-crime é encaminhada pelo Excelentíssimo ministro Alexandre de Moraes (e seus pares, do TSE) para o próprio Excelentíssimo Ministro Alexandre de Moraes, no STF. Pior, sem a oitiva do Ministério Público Federal”, afirma o texto.
O pedido de impeachment será despachado à advocacia do Senado, que dirá se é constitucional e se obedece ao regimento. Em seguida, o parecer será enviado ao presidente da casa, Rodrigo Pacheco, que decidirá pelo andamento ou arquivamento da denúncia.
Nesta sexta-feira, Pacheco, ao comentar o pedido enviado por Bolsonaro, disse que não antevia "fundamentos técnicos, jurídicos e políticos para impeachment de ministro do Supremo, como também não antevejo em relação ao impeachment de presidente da República”
Ele afirmou que não se renderá a "nenhum tipo de investida para desunir o Brasil”, e reafirmou que um processo de impeachment é "algo grave, excepcional, de exceção, que não pode ser banalizado”.
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rc (ots)
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