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Sem mágica: Rayssa Leal conquista o mundo com alegria e grandes manobras

Em um ambiente dominado por meninos, ela desconstruiu estigmas e se tornou medalhista olímpica aos 13 anos

O apoio da família foi fundamental para Rayssa não desistir diante das dificuldades e do preconceitoNatural de Imperatriz, no sul do Maranhão, a medalhista olímpica de prata no street skate Rayssa Leal, a Fadinha, conquistou as atenções do mundo não apenas pela idade e talento, mas pela naturalidade e inocência com que trata tudo o que está acontecendo.

Sem fórmulas mágicas, a garota de apenas 13 anos explica a todo o momento que só está se divertindo. E é com esse mesmo espírito que ela vive os seus dias quando está na cidade natal, entre os estudos e os rolês na pista de skate da Praça Mané Garrincha, única da cidade e que passou por reformas em 2019, graças ao seu desempenho e a mobilização da sua família de sangue e de skate.  

Em 2015 e 2021, Rayssa segue ″brincando″ de skate na pista de skate da praça Mané Garrincha, em ImperatrizNa pista de Imperatriz, os pais Haroldo Leal e Lilian Mendes levavam a pequena Rayssa, ainda aos seis anos de idade, para brincar no presente que havia ganhado. No início a brincadeira não foi tão bem aceita, nem mesmo entre a família, como conta Rayssa durante coletiva do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em Tóquio, em resposta à jornalista Ludmila Candal, da CNN.

“Quando eu comecei sofria bastante preconceito por ser uma menina e muito jovem a começar de skate. Boa parte da minha família dizia que não ia dar certo, que eu não ia conseguir, e estar mudando a mente deles é muito importante. Você vai conseguir, basta sonhar, persistir e confiar em Deus”, disse.

É o que ela também destaca em uma publicação nas redes sociais, na qual, com orgulho, a bisavó Joana Rodrigues segura o troféu da bisneta, a mais nova campeã da história do Street League Skateboarding (STS), campeonato mundial no ano de 2019 em Los Angeles, aos 11 anos de idade: “o skate não é como eles imaginavam, hoje todos mudaram sua visão”.

No ambiente dominado por meninos, logo ela se tornou maninha da turma e desconstruiu o estigma de que ali não era lugar para meninas. Hoje a pista da Mané Garrincha reúne não apenas amigos, mas uma grande família.

“Os meninos super se davam bem com ela, não tivemos nenhuma dificuldade, até porque a Rayssa sempre gostou de andar com os meninos, para ter mais um gás. Ela é essa pessoa que vocês veem. Ela gosta de estar com a galera, não separa seu ciclo de amizade, sempre gostou de todo mundo”, conta um dos parceiros de skate e amigo da família, Maksuel Mendes.

Taça Maranhense de Street Skate em 2017, organizado pelo pai Haroldo Leal e Maksuel Mendes, amigo.Para acompanhar ao vivo a disputa, foi montado inclusive um telão na cidade e, ao lado do pai Haroldo Leal e do irmão mais novo Arthur, que aos 10 anos já segue os passos da irmã sob as rodinhas, a família vibrou unida por Rayssa.

Respeitada no meio, a família Leal como um todo é inspiração para os jovens que praticam o esporte, pela persistência com que buscou a realização desse sonho.

“Só de ela estar lá, para a gente já é uma menina de ouro, já é medalha de ouro. Porque foi ela que quis ir, ela que teve determinação, só de ela querer ir já é uma grande conquista para a gente. Como amigo da família, sinto muito orgulho tanto dela, quanto dos pais dela que tiveram essa determinação. São em pessoas e pais como os dela que temos que nos inspirar”, conta Mendes.

Um dos meninos que praticam com a Rayssa desde os primeiros passos na cidade é Felipe Gustavo, que acolhido pela família, já ganhou festa de aniversário e parceria em viagens a São Paulo e ao Rio de Janeiro em 2018 para competir e conhecer alguns ídolos do skate como Sandro Dias, Letícia Bufoni e o também medalhista olímpico, Kelvin Hoefler.

Acolhido como um irmão, o amigo Felipe Gustavo é parceiro de pista desde as primeiras manobrasDuas vezes campeão maranhense, Felipe vibrou com a conquista da maninha pelas redes sociais e agradeceu o apoio que tem recebido ao longo dos anos.

“Você sempre foi guerreira, seu pai e sua mãe sempre correram atrás de fazer o melhor para você. Agradeça muito a papai do céu por ter um pai e uma mãe tão apoiadores que nem os seus. Parabéns família e obrigado por me acolher tão bem. Obrigado por tudo o que fizeram por mim!”, publicou.

Voar mais alto

Com o desempenho da pequena após viralizar nas redes sociais como Fadinha em 2015 e a certeza de que Imperatriz não garantia as condições necessárias para os treinos, os pais de Rayssa abraçaram a causa do skate na cidade e passaram a bater de porta em porta para pedir melhorias no espaço público, mais segurança na praça e valorização dos jovens atletas.

No lugar do sonho de uma piscina, Rayssa conquistou uma pista de skate no quintal de casaApesar da reforma em 2019, pouco foi feito pelo esporte na cidade, mas assim mesmo Rayssa voou. Hoje premiada, patrocinada e referência no esporte, conquistou o sonho de ter sua própria pista de skate no quintal de casa durante a quarentena. Para isso ela contou com o suporte técnico de Cristiano Fernandes, criador do Brasil Skate Camp, que passou uma semana acompanhando as obras.

E Rayssa vai continuar a voar cada vez mais alto. Com um salto de pouco mais de 800 mil seguidores para mais de 5 milhões, até mesmo o país ficou pequeno. Os olhares do mundo estão voltados para a fada que mostrou, com a leveza e o sorriso de criança, que é possível.

O mascote da olímpiada, Miraitowa, apelidado por ela de Herex por não saber pronunciar o nome real, foi quem acompanhou sua última noite de sono em Tóquio. Noite essa que será seguida por dias de muitas realizações e mais sonhos a serem realizados – dela, de sua família e de todos os brasileiros.

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Brasil de Fato