Bolsonaro teria pedido à Pfizer para antecipar para junho entregas previstas para o quarto trimestreO presidente Jair Bolsonaro pediu à farmacêutica americana Pfizer nesta segunda-feira (14/06) que antecipe a entrega de doses de sua vacina contra a covid-19 ao Brasil, segundo participantes de um encontro virtual entre o presidente, integrantes do governo e representantes da empresa ouvidos pela imprensa brasileira.
Bolsonaro procurou a Pfizer após levantar dúvidas sobre a eficácia do imunizante e após seu governo ignorar ofertas de doses feitas pela farmacêutica. À CPI da Pandemia, o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, afirmou que foram ao menos cinco ofertas em 2020, enquanto a Folha de S. Paulo aponta que somente entre 14 de agosto e 12 de setembro, ao menos dez e-mails foram enviados pela farmacêutica cobrando uma reposta.
"Um dos assuntos [tratados na reunião] foi exatamente a possibilidade de antecipar as doses inicialmente contratadas. A gente tem o primeiro contrato de 100 milhões de doses, cujo cronograma estima até setembro receber a totalidade dessas doses. O que a gente pediu, entre outros assuntos, foi verificar a possibilidade de antecipar ao máximo as doses contratadas dentro deste primeiro contrato", afirmou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, citado pelo portal G1.
Segundo Cruz, os representantes da Pfizer afirmaram que, apesar da demanda elevada, vão se esforçar para atender o pedido de antecipação.
Cruz também afirmou que o governo federal avalia comprar mais doses do imunizante da farmacêutica, desenvolvido em parceria com a empresa alemã Biontech, para 2022.
Além de Bolsonaro, participaram da reunião virtual os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga; da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos; e das Relações Exteriores, Carlos França; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; e o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, almirante Flavio Rocha. Carlos Murillo e Marta Díez, presidente da Pfizer no Brasil, representaram a farmacêutica.
À agência de notícias Reuters, um integrante do governo brasileiro disse que Bolsonaro pediu aos executivos da Pfizer se entregas previstas para o quarto trimestre deste ano poderiam ser antecipadas para junho. O braço da farmacêutica no Brasil não quis comentar sobre o encontro, segundo a Reuters.
A celeridade pedida agora pelo governo Bolsonaro contrasta com a demora em responder às ofertas iniciais feitas pela Pfizer, a partir de agosto do ano passado. Um contrato com a farmacêutica foi firmado apenas em março deste ano, para a compra de 100 milhões de doses.
Segundo o depoimento do presidente da Pfizer para a América Latina à CPI, a primeira oferta feita pela Pfizer, em 14 de agosto, propunha a compra de até 70 milhões de doses da vacina, com as primeiras 500 mil doses a serem entregues ainda em 2020.
Antes de fechar o contrato com a Pfizer, Bolsonaro chegou a dizer publicamente que tomar a vacina da empresa poderia transformar as pessoas em jacarés e, em várias ocasiões, criticou as condições do laboratório para a venda de seu imunizante.
"Lá, no contrato da Pfizer, está bem claro: nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu", disse o presidente em meados de dezembro.
Além de questionar diversas vezes a eficácia de vacinas contra a covid-19, Bolsonaro minimizou repetidamente a gravidade da doença, classificando-a de gripezinha, promoveu insistentemente o uso da cloroquina – medicamento antimalárico sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus –, e sabotou medidas de combate à pandemia. No último fim de semana, o presidente participou de um passeio de moto com apoiadores pelas ruas da capital paulista e foi multado por não usar máscara durante a manifestação.
A CPI da Pandemia, instalada no fim de abril pelo Senado, investiga o governo federal por ações e omissões do governo federal no enfrentamento da doença, incluindo as negociações com a Pfizer.
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, 81 correspondências foram enviadas pela Pfizer ao governo Bolsonaro entre março do ano passado e abril deste ano, e cerca de 90% ficaram sem resposta.
A reunião desta segunda-feira com representantes da Pfizer ocorreu um dia depois de o governador de São Paulo, João Doria, adversário político de Bolsonaro, antecipar em 30 dias o cronograma de imunização contra a covid-19 no estado. Doria prometeu vacinar todos os adultos de São Paulo com ao menos uma dose até meados de setembro. O plano anunciado pelo Ministério da Saúde até agora prevê vacinar todos os adultos até o fim do ano.
Quase 500 mil brasileiros já morreram de covid-19, e mais de 17 milhões de infecções com o novo coronavírus foram confirmadas no país. Até agora, apenas 11,2% da população foi completamente vacinada, segundo levantamento da imprensa brasileira – sendo a maioria das doses aplicadas da Coronavac e da AstraZeneca.
As primeiras doses da vacina da Pfizer, que estudos apontam ter 95% de eficácia, chegaram ao Brasil somente no fim de abril e começaram a ser usadas no início de maio. Após as 100 milhões de doses acordadas em março, o governo fechou um segundo contrato em maio para o fornecimento de mais 100 milhões.
Para este mês, está prevista a entrega de 12 milhões de doses, e para julho, de 8 milhões. O imunizante é o único contra a covid-19 que já teve o registro definitivo aprovado pela Anvisa.
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lf/as (Efe, Reuters, ots)
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