Operação também mirou escritório da esposa de WitzelA Polícia Federal cumpre na manhã desta segunda-feira (26) mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Agentes estão no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governo, no Palácio Guanabara, sede do Executivo estadual, e ainda na casa em que Witzel morava antes de assumir o cargo.
De acordo com a Polícia Federal (PF), a ação, batizada de Operação Placebo, foi desencadeada para apurar a suspeita de desvios de recursos destinados ao combate à epidemia de coronavírus no estado do Rio.
Segundo a PF, as investigações indicam a existência de um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha, além de servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do estado. A investigação teve início em abril.
Ao todo, estão sendo cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) – como governador, Witzel tem foro privilegiado. Um dos alvos é o escritório de advocacia da primeira-dama do Rio, Helena Witzel. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, agentes também estão vasculhando a sede da Organização Social Iabas, que firmou um contrato de 850 milhões de reais com o governo do Rio para implantação de hospitais de campanha.
Os agentes da PF também estão na residência do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves, que foi preso em uma operação em 7 de maio.
Em nota divulgada após a deflagração da operação, Witzel disse não haver "absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas". "Estou à disposição da Justiça, meus sigilos, abertos, e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o estado do Rio de Janeiro", completou.
Witzel ainda sugeriu que a PF agiu de maneira política.
"Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada."
Ação ocorre após trocas na PF
Witzel é um adversário político do presidente Jair Bolsonaro. Eles já vinham trocando farpas desde 2019. Em dezembro, o presidente insinuou que Witzel estava por trás de uma operação do Ministério Público do Rio que envolveu endereços ligados a um dos filhos do mandatário, o senador Flávio Bolsonaro.
No vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, que faz parte do inquérito que apura suspeitas de interferência na Polícia Federal por parte de Bolsonaro, o presidente chegou a se referir a Witzel como "estrume".
Após a divulgação da operação, Bolsonaro parabenizou a PF. "Parabéns à Polícia Federal, fiquei sabendo agora. Parabéns à Polícia Federal", disse Bolsonaro nesta terça-feira, ao deixar o Palácio da Alvorada.
A operação desta terca-feira ocorre um dia após a nomeação do novo superintendente da PF no Rio, Tácio Muzzi, e três semanas depois da nomeação de Rolando Alexandre de Souza para a direção-geral da corporação. Os dois foram nomeados após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro acusar o presidente de interferir na PF e desejar especificamente uma mudança de comando na superintendência do Rio, supostamente para blindar a família presidencial.
Deputada bolsonarista sinalizou ação
Na segunda-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) havia antecipado que a PF começaria a lancar operações contra governadores. Zambelli é uma aliada de Bolsonaro e atua como auxiliar informal do governo – em abril, ela tentou convencer Moro a ficar no cargo.
"A gente já teve algumas operações da PF que estavam na agulha para sair, mas nao saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de 'covidão' ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar. Mas já tem alguns governadores sendo investigados pela PF", comentou.
Outro deputado bolsonarista, Filipe Barros (PSL-PR) também demonstrou na noite de 24 de maio saber que alguma operação estava prestes a ser deflagrada. "Bastou [Moro] sair do Ministério da Justiça que a Polícia Federal voltou às ruas em operações de combate à corrupção, agora no COVIDÃO", escreveu o deputado no Twitter.
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JPS/ots/ab
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