A anulação das condenações do ex-presidente Lula (PT), confirmada no plenário do STF nesta quinta-feira (15), e a confirmação de sua elegibilidade para 2022 devem acelerar as negociações em torno do possível apoio de partidos mais ao centro à sua candidatura à Presidência.
A estratégia envolve a negociação de apoios a candidatos de partidos como o PSD, MDB e PSB nos estados, tendo como contrapartida o apoio dessas legendas ao ex-presidente em sua tentativa em retornar ao Planalto em 2022.
O entendimento entre líderes do partido é que, ao contrário das eleições de 2020, quando o PT lançou candidaturas em 21 das 26 capitais, no próximo ano a legenda deve apostar em alianças com candidatos do campo de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido).
“Está claro nas últimas intervenções de Lula que a melhor estratégia é repetir o perfil da candidatura de 2002, abrindo espaço para partidos do centro democrático”, diz o senador Paulo Rocha (PT-PA).
A tendência é que o PT tenha candidaturas próprias em estados onde já governa, caso de Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte, e em grandes colégios eleitorais como São Paulo e Rio Grande do Sul.
Por outro lado, há espaço para negociações em estados em que o PT costuma compor com aliados, caso de Alagoas e Amazonas, e nos estados onde a legenda já foi forte, mas perdeu espaço, caso de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará e Acre.
A necessidade de composição com partidos de centro foi externada pelo próprio Lula em uma reunião com parlamentares do partido no último mês, conforme revelado pela coluna Painel. Na ocasião, ele destacou ser importante ir além dos partidos de esquerda na construção de uma candidatura ao Planalto.
Mesmo que partidos como o MDB e PSD não apoiem formalmente a candidatura que Lula, a avaliação interna é a de que o apoio de alguns de seus líderes nos estados será fundamental para o embate do ex-presidente com Bolsonaro.
Alguns líderes desses partidos, que se afastaram do PT após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) começam a se reaproximar.
Um dos entusiastas de um possível apoio a Lula é senador Renan Calheiros (MDB-AL), que tem tido uma postura de oposição a Bolsonaro e deverá ter um papel de destaque na CPI da Covid.
Em Alagoas, o PT reaproximou-se do governador Renan Filho (MDB) e apoiou a sua reeleição em 2018, cerca de dois anos após o rompimento.
A tendência é que a parceria seja mantida na próxima eleição e que o PT faça parte do arco de alianças do candidato à sucessão de Renan Filho, que ainda não foi definido pelo grupo do governador.
“O desenho eleitoral do PT em Alagoas terá como prioridade máxima ajudar a eleger o presidente Lula”, afirma o deputado federal Paulão (PT-AL), que ainda afirma haver uma sinergia entre o PT e o governador de Alagoas.
Outro estado em que há chance de composição com o MDB é o Pará, onde uma das prioridades do partido será a reeleição do senador Paulo Rocha, um dos dois senadores petistas em final de mandato.
Rocha foi eleito em 2014 na mesma chapa de Helder Barbalho (MDB), que acabou derrotado para o governo do Pará naquela eleição. Em 2018, o PT lançou o próprio Rocha governador, que terminou em terceiro lugar e apoiou Helder no segundo turno.
No estado, há expectativa de que a dobradinha de 2014 se repita no próximo ano. O governador tem dado sinais que apontam que ele deve se posicionar na oposição ao presidente Bolsonaro e tem boa relação com a esquerda local, incluindo o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues (PSOL).
Outro componente pode impulsionar o apoio da esquerda à reeleição de Helder: o lançamento de candidaturas na oposição ao governador, mas no campo bolsonarista.
Os nomes mais cotados são o do senador Zequinha Marinho (PSC) e do policial federal Everaldo Eguchi (Patriota), que surpreendeu na eleição do ano passado e chegou ao segundo turno da disputa pela prefeitura de Belém.
Em Minas Gerais, o partido precisará reconquistar o seu espaço após a derrota de 2018, quando o governador Fernando Pimentel (PT) perdeu a reeleição e a ex-presidente Dilma foi derrotada para o Senado.
O partido aponta para o lançamento de uma candidatura própria no estado, mas são grandes as chances de composição em uma provável candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) ao governo do estado.
Uma flecha nesta direção foi lançada em fevereiro, quando Fernando Haddad, presidenciável derrotado do PT nas eleições de 2018, fez uma visita de cortesia ao prefeito de Belo Horizonte.
O cenário é parecido no Acre, onde o PT foi derrotado em 2018 depois de 20 anos governando o estado, e pode abrir mão de disputar o governo pela primeira vez desde a redemocratização.
“Não cabe ter uma visão curta, temos que ter humildade e ter os pés no chão. É como uma travessia no deserto, a gente precisa se abastecer para chegar ao outro lado”, diz o petista Jorge Viana, que governou o Acre de 1999 a 2006.
Uma das possibilidades é uma chapa com o senador Sérgio Petecão (PSD) para o governo do estado e Jorge Viana para o Senado. “Vamos conversar com todos os setores não alinhados a Bolsonaro”.
Em Mato Grosso do Sul, o cenário é semelhante e o PT deve firmar aliança em 2022 com partidos mais ao centro.
“Para ter uma perspectiva concreta de ganhar com Lula, o partido precisa compor. Isso significa abrir mão de candidaturas majoritárias”, afirma Zeca do PT, que governou o estado de 1999 a 2006.
Ele defende que o partido converse com o PSD do senador Nelsinho Trad e até mesmo o PSDB do governador Reinaldo Azambuja, que trabalha o secretário Eduardo Riedel para a sucessão.
Além da eleição para o Planalto, o PT terá como prioridade reforçar sua bancada no Congresso para dar maior consistência na sustentação a um eventual governo Lula.
Uma atenção especial será dada à eleição para à eleição da bancada de deputados, principal balizador da distribuição do tempo de televisão e dos recursos do fundo eleitoral nas eleições posteriores.
A eleição de 2022 será a primeira para a Câmara dos Deputados sob a nova regra que determinou o fim das coligações nas eleições proporcionais, o que pode beneficiar o PT, que tem forte base social.
A avaliação é que, assim como nas eleições municipais as candidaturas próprias a prefeito tendem a puxar os vereadores, a candidatura de Lula cumpriria esse papel em relação aos deputados federais.
Por isso, a disputa de governos estaduais não seria determinante onde o partido não possui candidatos competitivos. Pelo contrário: a candidatura majoritária representaria mais uma fonte de gastos.
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Folha de São Paulo
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