A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) articulou uma campanha direcionada ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta segunda-feira 12. Em um vídeo feito em inglês, a organização é taxativa: “Ou a Amazônia, ou Bolsonaro. Você não pode ter ambos. De que lado você está?”.
O pedido é para que Biden não confie e não negocie com o presidente Jair Bolsonaro qualquer acordo que envolva o futuro da Amazônia — possibilidade aventada para ocorrer durante uma cúpula convocada pelo presidente americano, que acontecerá na próxima semana.
“Não deixe esse homem negociar o futuro da Amazônia. Ele declarou guerra contra nós. Contra os povos indígenas, contra a democracia. Ele espalha Covid, mentiras e ódio. Ele é um extremista que disse que a sua eleição é uma fraude“, diz a narração, que é acompanhada de imagens do presidente brasileiro.
Mr. @JoeBiden , the indigenous peoples from Brazil know you are making a secret climate deal with Bolsonaro. We must warn you. DO NOT TRUST HIM.
— Apib Oficial (@ApibOficial) April 12, 2021
If you want to help the Amazon, talk to the people that live and keep the forest alive. #AmazonOrBolsonaro #WhichSideAreYouOn pic.twitter.com/pKLHDNSEJg
Essa não é a primeira reação aos riscos de que um acordo forneça fundos que seriam supostamente direcionados ao controle do desmatamento. Uma carta assinada por 199 instituições da sociedade civil aponta que “não é razoável esperar que as soluções para a Amazônia e seus povos venham de negociações feitas a portas fechadas com seu pior inimigo”.
“As negociações ocorrem longe dos olhos da sociedade civil, que o presidente brasileiro já comparou a um
‘câncer’. O governo brasileiro comemora tais negociações, que envolveriam recursos financeiros. O presidente americano precisa escolher entre cumprir seu discurso de posse e dar recursos e prestígio político a Bolsonaro. Impossível ter ambos”, escrevem as entidades.
Convocado por Joe Biden no último dia 26 de março, o evento contará com a presença virtual de 40 líderes mundiais para “discutir a urgência e os benefícios econômicos de uma ação climática forte” e promete ser um prenúncio para os debates da próxima Conferência do Clima (COP) 26, que acontece em novembro na cidade britânica de Glasgow.
As negociações para um aporte financeiro bilionário por parte do governo americano já foram anunciadas, em partes, pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na última semana.
Salles afirmou que, com 1 bilhão de dólares, o governo brasileiro se compromete a reduzir o desmatamento em 40%. O ministro não apontou, entretanto, qualquer contrapartida de redução da destruição com o orçamento atual destinado aos órgãos de controle, especialmente o Ibama, que tem o menor aporte financeiro para operar dos últimos 20 anos.
Enquanto isso, o desmatamento continua batendo mais recordes sob o governo Bolsonaro. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), os satélites que monitoram a Amazônia e o Cerrado rastrearam em março deste ano o maior índice de destruição dos últimos 6 anos, no primeiro caso, e dos últimos 3 anos de monitoramento do segundo bioma.
Joe Biden e Jair Bolsonaro ainda não tiveram um contato direto desde que o presidente americano assumiu o posto, em janeiro. Bolsonaro, que se orgulhava da alcunha de ser um ‘Donald Trump dos trópicos’, foi um dos últimos líderes mundiais a saudar a vitória do democrata, em meio a acusações infundadas de seu adversário republicano.
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Carta Capital
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