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Poder

Lula e a vacina: reunião com fundo russo sobre Sputnik V e carta para Xi Jinping

Lula teve reunião com russos sobre a vacina

Por Bela Megale

Lula põe máscara após votar para prefeito de São Bernardo do Campo em 2020A movimentação política de Lula não tem se limitado ao rearranjo interno do PT e aliados para encarar Bolsonaro nas eleições de 2022. Mesmo fora do governo, o ex-presidente tem se articulado para tentar fazer parte das decisões que envolvam o País, concentrando esforços para se contrapor a Bolsonaro no combate à pandemia.

O petista já vinha preparando esse terreno meses antes da decisão do ministro do STF Edson Fachin, que anulou todas as ações movidas contra ele pela Lava-Jato de Curitiba. Há cerca de três meses, o líder petista teve uma reunião com Kirill Dmitriev, diretor do Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), que financiou o desenvolvimento da Sputnik V.

O convite para a conversa partiu de Dmitriev, após o russo ver que Lula estava entre os signatários de um abaixo-assinado organizado pelo Nobel de Economia Muhammad Yunus, que defende a vacina como bem comum da humanidade e, por isso, deve ser distribuída gratuitamente a todos. Ao receber o convite, o petista convocou os ex-ministros da Saúde José Gomes Temporão, Alexandre Padilha e Arthur Chioro para participar da videoconferência.

– Dmitriev disse que o presidente Vladmir Putin havia incentivado a reunião com Lula. Foi uma conversa importante, porque abriu a relação do fundo russo com o Consórcio do Nordeste. Deixamos claro que, além do Paraná, com quem eles tiveram as primeiras tratativas, tinham muitas frentes no Brasil a serem abertas. Destacamos que o interesse pelo volume de vacinas era maior e envolvia vários estados brasileiros. Isso fortaleceu o acordo de milhões de vacinas firmado com os estados do nordeste. – disse Padilha à coluna.

O Ministério da Saúde assumiu o compromisso de negociar a compra de 39 milhões de doses da vacina Sputnik V com a intermediação do governo da Bahia. O número tinha sido fechado com o Consórcio do Nordeste, que reúne os Estados da região. Padilha afirma que Lula “foi um super incentivador” das conversas sobre a Sputnik V e destacou a necessidade de trazer para o Brasil “vacina boa, segura, eficaz”.

No fim de janeiro, quando a China atrasou o envio de insumos para o Brasil para a produção de vacinas, o ex-presidente também se mobilizou. Com Dilma Rousseff, enviou uma carta (veja o documento abaixo) ao presidente chinês Xi Jinping elogiando a condução da pandemia no país e com críticas ao “negacionismo” e “incivilidade” de Jair Bolsonaro.

“Consideramos oportuna essa mensagem, como forma de manifestar a nossa certeza de que a antiga e sólida amizade entre os nossos povos não será abalada pelo negacionismo, pela incivilidade e pelas grosserias proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e seu governo. A amizade e a parceria entre a China e o Brasil são inabaláveis, porque os governos passam, mas os laços que unem os povos são permanentes”, escreveu.

No documento, Lula e Dilma também defenderam o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que já foi alvo de ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo. “O embaixador da China no Brasil, seguidamente desafiado por provocações e manifestações desrespeitosas de nossos governantes, se esforça como pode para preservar as boas relações entre nossos países”.

Na carta, os ex-presidentes petistas agradeceram a parceria do laboratório Sinovac com o Instituto Butantan no desenvolvimento da vacina no Brasil e o envio de insumos. “Em nome desta grande amizade que brilha em qualquer circunstância e que soubemos construir entre esses nossos dois países e nossos povos, não faltará ao Brasil insumos indispensáveis para dar continuidade à recém-iniciada produção de vacinas que salvem a vida do povo brasileiro”.

Poucas semanas depois, deputados da oposição, entre eles o próprio Alexandre Padilha, se reuniram com representantes da embaixada da China para reforçar as mensagens transmitidas na carta.

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O Globo