″Entender, estudar cada lei, a partir de uma perspectiva da mulher, faz muita diferença″, Bia Caminha“Nós nunca conseguimos nada de mão beijada. Lutamos para isso, é por isso que trabalhamos nos movimentos sociais, nos movimentos de mulheres, movimentos de esquerda. Nós mostramos para a sociedade que nada vem de cima para baixo. Isso que nós temos foi de baixo para cima, foi nas lutas públicas e políticas”. A declaração é de Maria Luzia Miranda Álvares, cientista política e pesquisadora, que desde 1977 desenvolve estudos sobre gênero e política.
Uma fala que se exemplifica pela vivência de cinco mulheres que, hoje, representam o público feminino na Câmara Municipal de Belém (CMB): Bia Caminha (PT), Blenda Quaresma (MDB), Dona Neves (PSD), Enfermeira Nazaré (Psol) e Lívia Duarte (PSol). Junto da Pastora Salete (Patriota), elas ocupam seis das 35 cadeiras da casa, o equivalente a 17,14% do parlamento em Belém, ainda que as mulheres sejam 54% do eleitorado na capital paraense.
“O parlamento é uma instituição primordialmente machista, branca e heteronormativa, que nega participação e acesso aos que não se enquadram nesse padrão. Logo, na maioria das vezes, tentam mostrar que é um espaço democrático, mas sentimos o inverso nos discursos e atitudes dos parlamentares, acostumados a falar e decidir pelas mulheres”, conta Nazaré Lima, vereadora, que está na vida pública há 30 anos.
″Pesquisas refletem a discriminação estrutural contra as mulheres″, Luzia Miranda De acordo com pesquisas de Luzia Álvares, a situação reflete a discriminação estrutural contra as mulheres. “São fundamentos do sistema patriarcal que vão ditar normas de comportamento para os dois sexos. Os homens participam do espaço público e político e as mulheres são determinadas para o espaço privado, maternal e doméstico. E ambos setores sociais e políticos vão estar marcados por essas normas e a representação política está nesse processo discriminatório, que vai se expandindo ainda pela a raça, classe, etnia e geração”, explica.
Para Maria das Neves, no seu primeiro mandato como vereadora, a presença de mulheres em espaços de decisão política é um dos caminhos que pode ser trilhado para reverter este cenário. Para ela, "a sociedade, no geral, ainda tem questões de igualdade de gênero a serem compensadas e a representatividade feminina no parlamento é de fundamental importância para que tenhamos uma sociedade onde respeito e a igualdade de gênero sejam constantes”.
Já a vereadora Lívia Duarte afirma que o espaço conquistado pelas mulheres na câmara não tem a ver só com representatividade, mas “com fissuras, tem a ver com mostrar para uma estrutura que a gente existe, que o poder emana de quem está embaixo. Então, o nosso desejo, além de promover políticas públicas, além de promover leis que amparem as mulheres, é um desejo de fissura, um desejo de mostrar que pode ser diferente”.
Nesse contexto, a participação ativa das mulheres em decisões de poder é mais do que necessária, por elas e por toda a população. Isso porque a vivência delas, em várias frentes de vida, de atividades contribui para que os problemas da sociedade sejam vistos de maneira ampla e minuciosa ao mesmo tempo.
“Só o fato de a gente existir lá dentro já é político. O fato de a gente entender, estudar cada lei que passa por lá, a partir de uma perspectiva da mulher, de como a mulher vive a cidade, como a mulher vive a política pública é muito diferente e também na proposição dessas políticas e dessas leis”, conta Beatriz Caminha, que começou a se interessar por política aos 13 anos.
Presença feminina precisa avançar CMB
A presença de seis mulheres na Câmara Municipal de Belém é histórica. Esse é o número máximo que o parlamento da capital paraense já teve e, nas palavras de Lívia Duarte é um avanço, mas que “sem dúvida nenhuma falta avançar muito”.
Para Blenda Quaresma, que está no segundo mandato como vereadora, é necessário incentivar que outras mulheres também ocupem este espaço. "Nós temos muitas mulheres que cuidam de suas casas e de suas comunidades e são excelentes gestoras, têm uma representatividade, fazem a mudança naquele local. Então, elas devem ser encorajadas. Outro ponto é capacitar essas mulheres, dar a elas a oportunidade de estudarem", enfatiza a parlamentar.
Por isso, neste 8 de março, no Dia Internacional da Mulher, o desejo de todas as mulheres - parafraseando a escritora Ryane Leão: “fique atenta às estrelas, porque talvez os baques nunca acabem, mas pelas que se foram sou e serei vento, nem sempre forte, mas sempre presente”.
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Agência Belém
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