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Denúncia da PGR contra Daniel Silveira dá brecha para Câmara soltar deputado, mas pressão do Supremo pesa

Ministério Público Federal acusa parlamentar que ameaçou ministros do STF de quatro crimes, mas não pediu que ele seja preso, apenas que use tornozeleira eletrônica

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (17/02) manter a determinação do ministro Alexandre de Moraes de prender em flagrante o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), depois de ele ter publicado um vídeo em que insulta vários juízes da Corte.

A votação no plenário foi unânime a favor da prisão. Todos os demais dez ministros apoiaram a decisão de Moraes: Edson Fachin, Nunes Marques, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello e Luiz Fux.

Silveira, que é da base aliada do presidente Jair Bolsonaro, foi detido na noite de terça-feira por agentes da Polícia Federal (PF) na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ele passou a noite preso na sede da PF na capital fluminense.

A prisão foi por flagrante delito por crime inafiançável, e foi determinada de ofício por Moraes, ou seja, sem pedido da Polícia Federal ou da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em vídeo postado horas antes nas redes sociais, o deputado xingou ministros do STF com palavrões e os acusou de suborno. Silveira disse que os juízes "não são bons para nada neste país, não têm caráter, não têm escrúpulos, não têm moral" e "deveriam ser afastados para nomear 11 novos juízes".

Na mensagem, o deputado apenas poupou o ministro Luiz Fux, presidente do Supremo, por "respeitar seu conhecimento jurídico" entre um grupo de "ignóbeis". O vídeo foi removido do seu canal no YouTube por "violar a política da plataforma sobre assédio e bullying".

Câmara reativa Conselho de Ética

Mesmo com a decisão do STF desta quarta-feira, a detenção de Silveira deve ser avaliada também pela Câmara, já que, segundo a Constituição, cabe aos demais deputados federais decidir sobre a prisão de um colega parlamentar. Líderes de bancadas deverão discutir o caso nesta quinta-feira. Se eles optarem por uma votação em plenário, é necessária uma maioria simples (257 votos) para derrubar a determinação de prisão.

Além disso, a Câmara dos Deputados determinou na quarta-feira a reativação imediata do seu Conselho de Ética para analisar o caso de Silveira. A mesa diretora da Câmara entrou ainda com uma representação contra o deputado por quebra de decoro, já que ele insultou juízes do STF e defendeu a ditadura militar.

Suspenso desde o início da pandemia de covid-19, o Conselho de Ética teve o seu funcionamento autorizado na semana passada, mas ainda necessita ser instalado e eleger seus membros.

PGR apresenta denúncia

Nesta quarta-feira, minutos após a decisão do STF, a PGR apresentou uma denúncia contra Silveira ao Supremo, no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos, do qual o deputado é alvo.

A denúncia da Procuradoria acusa o parlamentar de praticar, em pelo menos três ocasiões, agressões verbais e graves ameaças contra ministros do STF para favorecer interesse próprio.

Ele também é acusado de incitar ao uso de violência e grave ameaça para tentar impedir o livre exercício dos poderes Judiciário e Legislativo, em duas ocasiões, e de incitar à animosidade entre as Forças Armadas e o Supremo, ao menos uma vez. Os crimes estão previstos no Código Penal e na Lei de Segurança Nacional.

Se a Justiça aceitar a denúncia da PGR contra Silveira, dá-se início a uma ação penal, e o deputado se torna réu. Como ele tem direito a foro privilegiado, o caso é analisado pelo STF.

"Vigilante contra qualquer hostilidade à instituição"

O julgamento no plenário do STF durou cerca de 45 minutos. Fux abriu a sessão com um breve discurso a favor da harmonia entre os três Poderes e em defesa da Corte, afirmando que compete a ela "zelar pela higidez do funcionamento das instituições brasileiras".

"Esta Corte mantém-se vigilante contra qualquer forma de hostilidade à instituição. Ofender autoridades além dos limites permitidos pela liberdade de expressão que nós tanto consagramos no STF exige necessariamente uma pronta atuação da Corte", disse o presidente do Supremo.

Ao votar nesta quarta-feira, Moraes defendeu sua decisão da véspera reiterando que Silveira vem repetidamente afrontando ministros do STF, e que as declarações do deputado incentivam a "tirania, o arbítrio, a violência e a quebra dos princípios republicanos".

"As manifestações não atingiram somente a honorabilidade, não configuraram somente ameaça ilegal à segurança e integridade física de diversos ministros, mas visaram principalmente impedir o exercício da judicatura, o exercício independente do Poder Judiciário e a própria manifestação do Estado Democrático de Direito", argumentou Moraes.

"A violência não se dirigiu somente a diversos ministros da Corte chamados pelos mais absurdos nomes que não vou repetir aqui. Muito mais do que isso, as manifestações dirigiram-se diretamente a corroer as estruturas do regime democráticos", completou.

Alvo de dois inquéritos

Silveira já é alvo de dois inquéritos no Supremo, um referente a atos antidemocráticos e outro a propagação de fake news. Moraes é o relator de ambos os casos.

No primeiro inquérito, o deputado é investigado por alegado financiamento de atos antidemocráticos no ano passado, quando manifestantes apelaram ao fechamento do STF e enalteceram o AI-5.

O Ato Institucional de Número 5 foi um pacote de medidas antidemocráticas implementadas em dezembro de 1968 pelo regime militar e que marcou o início da fase mais repressiva da ditadura, com vários partidos políticos banidos, e dezenas de parlamentares opositores ao regime cassados.

Silveira é investigado também no inquérito das fake news, que apura a propagação de notícias falsas, ofensas, ataques e ameaças contra ministros do Supremo.

Segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo em abril de 2020, os investigadores da Polícia Federal identificaram, no âmbito do inquérito, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, como um dos líderes de um esquema criminoso de produção e propagação de notícias falsas.

Antes dos inquéritos, Silveira já havia causado controvérsias em 2018 ao quebrar uma placa simbólica em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada naquele mesmo ano.

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ek/lf (ots)