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Brasil supera China em mortos por coronavírus, admite agravamento da crise, mas Bolsonaro diz: "E daí?”

Enquanto ministro da Saúde, Nelson Teich, falava sobre a curva ascendente da doença, no Alvorada, presidente frisou que mortes “não são de agora” e que não faz “milagres”

O ministro da Saúde, Nelson TeichO Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira dados sombrios sobre o avanço da pandemia do coronavírus no Brasil, que ultrapassou a China em número de óbitos pela doença, com mais de 5.000 mortes. Só nas últimas 24 horas, o país incluiu 474 novos falecimentos pela covid-19 na contabilidade oficial, um recorde de confirmações num único dia, o que levou o novo ministro da pasta, Nelson Teich, a falar em um “agravamento da situação”no país. “É um número que vem crescendo (...). Temos a manutenção dos números crescentes, e temos que encarar como um agravamento da situação”, afirmou. De acordo com Teich, “a curva [de contágios e mortes] está aumentando”. Ao mesmo tempo em que o ministro falava à imprensa, o presidente Jair Bolsonaro, um negacionista da crise, se esquivava de responder sobre a escalada: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? (...) Sou Messias, mas não faço milagre”, disse, referindo-se a seu nome do meio.

Segundo o mais recente balanço do Ministério da Saúde, o país soma 71.886 casos da doença, com 5.385 novas infecções confirmadas em um único dia. Se o ministro Teich descartou a hipótese de que o aumento recorde no número de mortes tenha sido consequência de casos antigos acumulados e não testados, o presidente o contradisse, e afirmou, sem apresentar evidências, que os óbitos “não são de agora”. O mandatário disse se solidarizar com os familiares das vítimas, mas seguiu minimizando seu papel na crise: “É a vida. Amanhã sou eu”, disse em conversa com jornalistas transmitida em sua página do Facebook. As declarações de Bolsonaro foram aplaudidas por apoiadores que geralmente acompanham as entrevistas.

Escalada em São Paulo

Em sua breve fala à imprensa, a equipe de Saúde do Governo atribuiu a piora da situação ao aumento de casos em regiões específicas, onde o quadro é de “maior dificuldade”, conforme disse Teich. O ministro não fez relação entre o relaxamento do isolamento social em algumas capitais visto nos últimos dias e o aumento nos números de mortes e contágios, mas admitiu a precariedade em alguns pontos de atendimento: “Tem a parte financeira, tem os respiradores, EPIs (equipamentos de proteção individual), recursos humanos”, disse.

De acordo com Teich, os pontos críticos da pandemia seguem sendo em São Paulo, que lidera os números de mortos e contágios no país, Manaus, Recife e Rio de Janeiro. “São Paulo pode ter uma intensidade [maior no número de casos] nas próximas semanas na região metropolitana”, afirmou Wanderson Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde. A estação mais fria do ano também foi apontada por Oliveira como um fator de piora nos números do coronavírus no país. “O Brasil tem uma sazonalidade de doenças respiratórias no outono e no inverno. Estamos no outono. E não é só coronavírus, é também influenza e outras doenças”, disse. “É importante que todos reforcem as medidas de proteção.”

Antes mesmo do novo balanço nacional, o Estado de São Paulo já apontava nesta direção, com o registro na segunda-feira de 224 novas mortes. A taxa de ocupação de doentes por covid-19 nos hospitais do Estado mais populoso do país também segue uma crescente. No Estado, 61,6% dos leitos de UTI estão ocupados, assim como 44,5% das enfermarias. Já na Grande São Paulo, esse número é ainda maior, com 81% das UTIs ocupadas e 70% das enfermarias. “Estamos chegando a um limite altamente perigoso”, afirmou Geraldo Reple, secretário da Saúde do município de São Bernardo do Campo, que fica na Grande São Paulo. “A média de tempo que um paciente com covid-19 fica na UTI é de 15 dias. Portanto, conseguimos internar apenas dois pacientes por leito a cada mês”, disse ele, sobre o temor de que a região entre em colapso em breve.

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El País