IdealPolitk - A Bolsonaro, a cloroquina

Por: Leopoldo Vieira, CEO da IdealPolitik*

-- Brasília, 9 de abril = O que discursa e pactua o presidente Jair Bolsonaro vai perdendo relevância. Ontem, simultaneamente ao pronunciamento dele à nação, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar dando aos governadores e prefeitos autonomia para estabelecer as medidas antipandemia, deixando claro que, ao contrário do parecer do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, Bolsonaro não pode cassar decisões deles. Fora das recomendações técnicas, ele está bloqueado. Ter aceitado discurso preparado pelos militares chegou tarde. Embora lamentado mortes por coronavírus e dito que cabe aos governadores e prefeitos decidirem restrições, já antevendo despacho de Moraes, pouco antes, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, Bolsonaro voltou a criticar o isolamento social e disse que não é papel do estado, e sim das famílias, cuidar dos idosos. O público, tanto o dele, quanto o que perde e o que já lhe era crítico, ouve apenas o radical. Em meio a panelaços em todas as capitais, o presidente explicitou o isolamento dentro do governo e diante dos governadores, Judiciário, Congresso e maioria social.

-- O clima de paz com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi pró-forma, um pedido dos militares para estancar a sangria da desmoralização. Na coletiva à imprensa das 17h00, Mandetta chamou Bolsonaro de comandante e criticou o governador paulista João Dória, pedindo a não politização do uso da cloroquina, só que a crítica foi sutilmente endereçada ao próprio Bolsonaro, que é quem politiza o medicamento. O que os defensores da droga argumentam precisa, outrossim, ser demonstrado. Mas, a cloroquina foi o que restou, por ora, a Bolsonaro. Mandetta segue pondo-a em dúvida. O ministro participou de live da cantora sertaneja Marília Mendonça, promovendo-se sobre público outrora referenciado em Bolsonaro. Time is politics.

*Leopoldo Vieira, paraense, 36 anos, é jornalista, analista político, especialista em Administração Pública e chefe-executivo da IdealPolitik, agência de análise e assessoria.