IBOVESPA 107.398,97 −6.278,28 (5,52%)

Poder

'JBS é o mais problemático dos frigoríficos brasileiros', diz diretor de banco que retirou investimento de 240 milhões de reais

“Há os escândalos de corrupção, o problema do desmatamento, agora também toda esta questão envolvendo o coronavírus nos frigoríficos”, destaca o chefe de investimentos responsáveis do Nordea

Gado no município de São Félix do Xingu, ParáA JBS é a mais problemática entre as indústrias de carne brasileiras, e não estava aberta ao diálogo. Foram estes os motivos que levaram o Nordea, o maior banco do norte da Europa, que administra 555 bilhões de euros em ações, a deixar de investir no maior frigorífico brasileiro. A revelação foi feita em entrevista exclusiva ao ((o)) eco pelo chefe de investimentos responsáveis do Nordea, Eric Pedersen. “Há os escândalos de corrupção, o problema do desmatamento, agora também toda esta questão envolvendo o coronavírus nos frigoríficos”, destaca.

Segundo Pedersen, o Nordea era dono de cerca de 240 milhões reias em ações da empresa brasileira. O executivo confirmou que o banco mantém capital aplicado na Marfrig, mas não soube informar sobre investimentos na Minerva ―relatório da Global Witness mostra que o Nordea tinha 5,97 milhões de dólares aplicados na empresa. Juntos, os três frigoríficos representam 42% dos abates feitos na Amazônia Legal, segundo dados do Imazon.

A decisão do Nordea é anunciada no momento em que JBS, Marfrig e Minerva enfrentam cobranças e questionamentos pelo alto risco de desmatamento a que suas operações estão expostas. Desde o ano passado, gestores de fundos internacionais vêm alertando empresas e governo que as derrubadas na Amazônia comprometem seus investimentos no Brasil ―uma das cartas publicadas endereçava-se especificamente ao setor da carne bovina. Este ano, cobraram resposta aos novos recordes de desmatamento na Amazônia e se encontraram com o vice-presidente Hamilton Mourão depois que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que era preciso aproveitar a pandemia para passar a boiada na área ambiental.

A imagem da JBS ficou ainda mais manchada depois que a Anistia Internacional mostrou que a empresa tinha comprado gado oriundo de Unidades de Conservação e de uma Terra Indígena em Rondônia. Também não ajudou nada o fato de Marfrig e Minerva terem confirmado a contratação de sistemas de monitoramento para garantir a origem legal de seus fornecedores indiretos, enquanto a JBS permaneceu em silêncio. Este é o principal gargalo ambiental da cadeia da carne, que faz com que nenhuma empresa que atue na Amazônia possa dizer-se livre de desmatamento ―como afirmou o próprio Ministério Público Federal.

Está não é a primeira vez que o Nordea toma uma decisão contundente em relação ao desmatamento no Brasil. Em agosto do ano passado, no auge das queimadas da Amazônia, o banco decidiu que não iria mais comprar os títulos soberanos do País. Segundo Pedersen, a decisão teve a ver com riscos de curto prazo ―como a possibilidade de o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ir por água abaixo por causa do desmatamento― e de longo prazo, com a falta de sustentabilidade do caminho econômico escolhido pelo país. 

Assim como CEO da Storebrand Asset Management disse ao ((o))eco, Pedersen afirma que as conversas com o governo brasileiro são um bom primeiro passo, mas que é preciso ver resultados práticos. E que o novo aumento do desmatamento em junho não foi um sinal nada positivo. 

Consultada pela reportagem, a JBS informou que “não comenta decisões de investidores, mas lamenta não ter sido recentemente procurada pelo referido fundo para que pudesse apresentar de forma direta todas as suas ações e medidas comprovando seu total compromisso com a transparência das suas relações e com a sustentabilidade das suas operações” (confira a íntegra da resposta aqui).

___________

El País