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Poder

Ato por democracia e contra Bolsonaro acaba em choque com a polícia em São Paulo

PM dispersou com bombas de gás um ato chamado por torcidas organizadas antifascistas após confusão entre grupo e defensores do presidente na avenida Paulista

Manifestantes entre gás lacrimogênio na avenida PaulistaUm protesto a favor da democracia convocado por torcidas organizadas de futebol acabou em confronto na avenida Paulista, na tarde deste domingo. A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo, que fez barricadas nas ruas e atirou paus e pedras em resposta. Ainda não está claro o que provocou a confusão. No local, aconteciam duas manifestações simultaneamente, uma delas de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Para separar os grupos, a PM fez, inicialmente, um cordão de isolamento entre os dois lados. As torcidas organizadas foram às ruas como forma de se antepor aos atos bolsonaristas, que acontecem desde o início da quarentena em várias cidades do país e em Brasília contam até com a presença do presidente, como ocorreu novamente neste domingo —em muitos deles, os manifestantes pedem o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, além de um golpe militar.

Ato de torcidas organizadas pela democracia na Avenida Paulista, em 31 de maioA manifestação pró-democracia, que contou com centenas de pessoas, foi convocada pelas redes sociais e Whatsapp por grupos de torcedores do Corinthians, Santos e Palmeiras ligados ao movimento antifascista. Apesar do momento de pandemia do coronavírus, estas agremiações entenderam que era necessário fazer um contraponto aos atos a favor da intervenção militar. Aos gritos de “Democracia! Democracia!”, a marcha caminhou até a altura do Masp. Segundo manifestantes, simpatizantes do presidente provocaram o tumulto, que começou por volta de 13h45. Paulo Henrique, um dos participantes do ato, afirmou que três pessoas fardadas ligadas ao grupo pró-Bolsonaro provocaram os manifestantes, “e aí veio toda a Tropa de Choque em cima”.

Imagens feitas por manifestantes mostram um homem com farda militar segurando uma bandeira do partido ucraniano Pravyy Sektor, ligado à extrema-direita e a grupos neonazistas, provocando quem participava do ato à favor da democracia. Na semana passada uma bandeira desta mesma agremiação radical foi vista em um carro de som durante ato de apoio ao presidente. Na Internet também circulam vídeos de uma simpatizante bolsonarista com um taco de baseball na mão sendo escoltada para fora da Paulista por policiais.

Ainda não está claro o que provocou o uso de bombas por parte da polícia. Em entrevista à TV Globo, o coronel Álvaro Batista Camilo, secretário-executivo da PM, afirmou que o “uso de munição não-letal foi feito para evitar que os grupos antagônicos entrassem em confronto”. Indagado sobre a suposta parcialidade da tropa, tendo em vista que muitos manifestantes bolsonaristas são ligados à polícia, Camilo afirmou que a PM “não é contra nem a favor”, e que está lá “para proteger o cidadão de bem”. Ele não confirmou a prisão de manifestantes, nem falou sobre eventuais feridos, e afirmou que o comando da tropa irá analisar as imagens para ver quem provocou o confronto. Até as 16h ainda haviam focos de conflito na avenida.

A confusão no ato pela democracia pode servir de munição para grupos pró-ditadura, que vem pedindo intervenção militar para “garantir a ordem” e impedir que o Brasil se torne uma “ditadura comunista sob o jugo da China”, de acordo com slogans vistos nos atos a favor de Bolsonaro recentemente. O presidente, que usou um helicóptero neste domingo para sobrevoar um protesto de apoio ao seu Governo em Brasília e depois foi a cavalo saudar os presentes, não se manifestou ainda sobre o ocorrido na avenida Paulista. Ele usou sua conta no Twitter para compartilhar uma mensagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afirmou que iria dar tratamento de organizações terroristas aos grupos antifascistas. Em mais de uma ocasião esta semana Bolsonaro criticou ações do STF contra aliados: “Acabou, porra!”, afirmou após ação da Polícia Federal que mirou aliados seus em um inquérito contra disseminadores de fake news.

No Rio de Janeiro, um ato antifascista convocado pelas torcidas organizadas de clubes fluminenses também terminou com repressão policial.

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El País