Ao longo de 126 anos de história, Mosqueiro se transformou em um dos principais pontos turísticos de BelémA ilha de Mosqueiro é um dos pontos turísticos mais badalados do verão paraense. Para este mês de julho, ainda sob o contexto da pandemia da Covid-19, o local está preparado para receber milhares de visitantes, que se misturam à população nativa, para vivenciar momentos de alegria, tranquilidade e paz. Sobre a história da origem da ilha, que completa 126 anos nesta terça-feira, 6 de julho, o professor de Língua Portuguesa, Claudionor Wanzeller, destaca como tudo começou: a origem do nome Mosqueiro e os casos pitorescos que envolvem brilhantes relatos do forte antepassado indígena, navio pirata, bala de canhão de ferro e as varinhas do amor.
Sobre a história, o professor Wanzeller destaca que, “existem relatos antigos sobre a história da ilha como, por exemplo, no livreto intitulado Mosqueiro, de Wilson Amanajás, de 1976, porém, o estudo mais aprofundado é do livro Mosqueiro, Ilhas e Vilas, de autoria de Augusto Meira Filho, publicado em 1978”. Os índios Tupinambás foram os primeiros habitantes e utilizavam as praias para a prática do moqueio e da mariscagem. A etnia acabou morta ou foi expulsa pelos portugueses, embora, segundo o professor Wanzeller, tenha deixado grande contribuição à construção e o abastecimento de Belém.
A herança indígena de Mosqueiro é encontrada nas palavras oriundas da língua Tupinambá como Pratiquara, Murubira, Sucurijuquara e Carananduba, nomes de bairros e praias mais populares da ilha. As lendas, comidas típicas, artesanato e até a dança de pássaros são elementos do forte antepassado indígena de Mosqueiro.
A história de Mosqueiro também registra uma possível passagem do grande navegador espanhol Vicente Pizón pela Baía do Sol. De acordo com o professor Wanzeller, os ingleses teriam construído um forte para receber a figura ilustre por volta de 1.500, ano do descobrimento oficial do Brasil. A visita de Pizón foi anterior à chegada dos portugueses, espanhóis, franceses e ingleses.
“É certo que Francisco de Orellana aportou sua nau entre Mosqueiro e Colares em 18 de dezembro de 1545, dia dedicado à Nossa Senhora do Ó, originando-se desse fato a devoção dos mosqueirenses trazida pelos jesuítas”, conta o professor. “Esse espanhol, Francisco Orellana, teria descido a terra”, completa.
Segundo o professor de Língua Portuguesa, os escritores Wilson Amanajás, Augusto Meira Filho e Eduardo Brandão concordam que o nome Mosqueiro é oriundo do termo “moqueio”, que os índios tupinambás usavam para caracterizar o processo de conservação do peixe e da caça no calor brando da fogueira e ocorreria de duas formas: sobre o moquém para Meira ou enterrado na areia sob a fogueira para Amanajás. Para os escritores, a palavra sofreu uma evolução lingüística, pois os portugueses não conheciam a palavra moqueio e a substituíram por Mosqueiro, termo bem conhecido em Portugal e na Espanha.
Mas a história também chama atenção para um fato lendário: o nome Mosqueiro estaria ligado à denominação Punta da Musqueira, originada do nome do Pirata espanhol Ruy Garcia de Moschera, que teria passado por Mosqueiro em 1520, após seu navio ter sofrido avarias durante uma tempestade. “Dizem até que os indígenas ajudaram no conserto do navio e o espanhol fez do lugar a sua base por longos meses”, conta o professor Claudionor Wanzeller.
A ilha de Mosqueiro também tem seus mistérios. Segundo o professor Claudionor Wanzeller, um cemitério indígena estaria localizado na ilha, mas não há registros oficiais. O professor lamenta não ter realizado nenhuma pesquisa sobre o fato. “Já ouvi falar sobre o cemitério indígena bem antigo localizado na Ilha, mas não realizei nenhuma pesquisa sobre o assunto. Aliás, Mosqueiro se ressente da falta de uma pesquisa arqueológica, pois assim, como existe a história do cemitério, ouvimos também relatos sobre a existência de um barco muito antigo enterrado na lama, na nascente do rio Pratiquara”, conta.
O mais surpreendente é que o próprio professor encontrou em seu quintal uma bala de canhão de ferro puro. “Até eu encontrei enterrado no quintal de casa uma bala de canhão de ferro puro, que acredito ter sido disparada por um navio espanhol lá no início do século XVII”, contou.
No mesmo quintal, Wanzeller encontrou um frasco de porcelana de água de colônia. A bala, de pequeno diâmetro e pesando em torno de 10 quilos, faz parte do acervo arqueológico de Mosqueiro que também conta com o canhão encontrado na praia do Bispo e que foi enterrado próximo ao trapiche de Mosqueiro.
“Mosqueiro é a ilha do amor”, diz a letra da canção. A história teria origem nas varetas bordadas dos índios Tupinambás, acessórios desenhados com uma lâmina afiada apresentando motivos marajoaras e eram presenteadas a pessoas cujo o amor se desejava conquistar. “As varinhas do amor, como eram chamadas, traziam o nome da pessoa amada ou uma singela declaração e, dizem, não falhavam nunca. Ainda são produzidas na comunidade de Caruaru”, conta o professor Claudionor.
Mosqueiro também é reduto de festas populares como o Carnaval e São João. Sua rica arquitetura está espalhada nos antigos casarões, no trapiche, no portal de acesso, na igreja matriz e nos caramanchões. “O caramanchão é um elemento paisagístico que, geralmente, mistura o artificial (armação em madeira) ao natural (vegetais floridos que precisam de um apoio). No Mosqueiro, sempre foram tradicionais os caramanchões na Praça da Vila, na praia do Bispo e no Chapéu Virado que vai ser reinaugurado. Preservar uma tradição é sempre válido e louvável”, elogia Wanzeller.
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Agência Belém
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