O sexto dia de programação da I Festa Literária de Belém (I Flibe) foi um balaio de pura emoção, com pitadas generosas de arte e cultura. Teve jogo de capoeira, o boi Pavulagem, as bandas dos Paricás, o coral infantojuvenil da Secretaria Municipal de Educação (Semec) e até causos de assombração.
Movimento negro - O Café Literário abriu as portas para uma roda de conversa sobre a luta e a resistência do movimento negro, com a professora e escritora Zélia Amador de Deus, homenageada desta quarta-feira, 21, na festa literária. A programação da Flibe, que integra a I Bienal de Artes de Belém, prossegue esta sexta-feira, 23, na Fundação Cultural do Pará (FCP), no Centur.
Homenageada do dia - A professora Zélia Amador participou de uma roda de conversa sobre a luta histórica do movimento negro, tema abordado no livro de sua autoria “Teócendo as teias na diáspora”, publicado em 2019. ”Nossa perspectiva é que seja um dia bastante produtivo, de diálogos e troca de experiências e informações”, ressaltou Zélia Amador, primeira vice-reitora negra de uma universidade brasileira, a Universidade Federal do Pará (UFPA).
Sobre o livro, mencionou: “Africanas e africanos e seus descendentes elaboraram formas de resistência contrárias ao sistema escravista e a favor da manutenção de sua cultura. A formação de quilombos e a contação de histórias foram apenas algumas delas. Ao cruzarem o Atlântico vieram acompanhados, também, do mito da aranha e divindade Ananse, que muito nos ensina sobre o processo de contação de histórias presente nas tradições culturais africanas, bem como do universo da ressignificação dessas culturas como forma de resistência”.
Trajetória - Aos 70 anos, filha do Marajó, Zélia tem um longa trajetória voltada à educação, cultura e militância no movimento negro. Graduada em Licenciatura em Língua Portuguesa e com doutorado em Ciências Sociais, ambas pela UFPA, Zélia é uma das fundadoras do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), entidade sem fins lucrativos que busca a superação do racismo e das discriminações à população negra.
Balaio de artes - Foi um dia de muitas histórias fantásticas para ver e ouvir, com a participação luxuosa das crianças e dos jovens da rede municipal de ensino de Belém. Então, segue o novelo que vamos contar tim-tim por tim-tim tudo que aconteceu na programação desta manhã de quarta-feira, lá no Centur. Espia só.
Os capoeiristas da Escola de Pesca, da Ilha de Caratateua, abriram as atividades no palco da Praça do Povo, com um show de movimentos milimetricamente coordenados. O grupo foi criado nesta gestão e conta com 30 alunos, todos moradores de Outeiro e entorno.
“Nosso objetivo é estimular a capoeira entre os jovens de Belém, com oportunidade de prática de esporte e educação”, disse Dicleidson Costa, o contramestre do grupo.
Coral da Semec - Em seguida, a praça foi tomada por crianças e jovens que integram o coral de 100 vozes da Semec. Em coro, elas fizeram o convite aos presentes para show: “Belém, Belém, vem ver-o-peso do meu cantar”. Com esta canção, “Flor do Grão Pará”, de autoria do compositor já falecido Chico Sena, começou o espetáculo desses pequenos artistas, esbanjando talento na voz, percussão e na flauta. Público de pé aplaudiu a garotada, que seguiu cantando "Afinal, que dança é essa que a gente dança só?”. Pois não é que veio o carimbó do Pinduca para a praça do Povo?
O coral da Semec foi criado no ano passado, e envolve crianças e jovens de cinco escolas da rede municipal de ensino: Milton Monte, Almerindo Trindade, Benvinda de França Messias, Manuela Freitas e a UP Verdejante, anexo da escola Olga Benário.
A coordenadora e regente do coral, professora Raquel dos Anjos Veiga, informou que apesar do pouco tempo de ensaio, “a apresentação foi maravilhosa e emocionou a todos nós”. Ela agradeceu o “apoio fundamental” de toda a equipe da Semec, das crianças e jovens e seus familiares. “Seria impossível esta realização sem a participação e ajuda de todos vocês”, agradeceu Raquel.
Professores e diretores estavam orgulhosos com a participação das crianças. Gicélia Rosa Sampaio, da UP Verdejante, não conseguia disfarçar o orgulho de ver que a criançada da escola deu conta do recado. “Está tudo muito bonito e organizado. Que bom contarmos com essa oportunidade para mostrar nossos talentos”, reforçou.
A professora Norma Moreira, da escola Almerinda Trindade, também compartilhou da mesma opinião da colega de profissão. “Foi um espetáculo, uma iniciativa que só devemos louvar porque desperta o interesse das crianças pela cultura, leitura e arte”, assinalou.
Pavulagem - Ainda veio o Pavulagem, sim, o boizinho da Escola Círia de Nazaré, das bandas dos Paricás, que fica no distrito de Icoaraci. Crianças de 4 e 5 anos, em rodopios de dança, apresentavam o Pavulagem da Vila Sorriso, e entoavam: “Do arraial que é do sol, do arraial que é da lua, do povo na rua, do meu guarnicê”.
A diretora da Círia de Nazaré, professora Virgínia Nunes, estava feliz com sua criançada aprendendo e ensinado em festa.“A festa é um importante e necessário espaço de valorização da nossa cultura”, enfatizou a professora, ao lembrar que nesta quinta-feira, 22, a partir de 9h, a escola também vai participar da apresentação artística “A Revolta da Cobra Grande”, no palco da Praça do Povo.
Quarta Visagenta - A literatura do assombro e das lendas marcou o dia no estande dos escritores paraenses. Decorado com imagens dos encantados da floresta, como o Saci e o Curupira, chamou atenção de crianças e adultos. Como expressa o escritor Genésio Gomes, “são histórias fantásticas, fruto da oralidade por onde passamos para permear o nosso imaginário”. O espaço reserva publicações de 64 autores.
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Ag. Belém
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