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Opinião

IdealPolitik - Recados políticos do general da Saúde

Por: Leopoldo Vieira, CEO da IdealPolitik

-- O novo ministro da Saúde, por ora interino, Eduardo Pazuello, afirmou, em assembleia virtual da Organização Mundial da Saúde, OMS, nesta segunda-feira, que os protocolos de combate à pandemia no Brasil, necessários para reabrir a economia, devem ser estabelecidos pela gravidade da doença em cada região, mas, apesar da maioria de morte e casos estar em São Paulo e no Sudeste, o foco seria o Norte e o Nordeste. Também informou que há duas estruturas operando contra a Covid-19 no governo: o comitê de ações interministeriais do governo e o próprio ministério que ele comanda.

-- As declarações de Pazuello contém significados políticos: primeiro, abriu-se para o diálogo intefederativo para gestão da crise em regiões, onde abundam votos do Centrão, e interessa ao governismo reduzir ao máximo o espaço da centro-esquerda, como se pode chamar, por exemplo, o governo Hélder Barbalho, no Pará; segundo, porque os militares dirigem tanto o comitê quanto, na prática, independente de Pazuello ficar ou não, o Ministério da Saúde.

-- O problema é que sem as grandes economias flexibilizando o isolamento, o impacto na recuperação será pequeno, mas uma inflexão nas menores, piorará o quadro econômico, sobretudo se o garrote aos governadores for o argumento. O acordo com o Centrão ou serve para reabrir ou servirá pouco ao mercado. Outro, é que o abuso do vetor político para tomar a decisão de reabrirem desde o acordo governo e Centrão, pode ter péssima consequência em retorno para os próprios negócios.

-- A tendência que vai se fortalecendo é a de um governo com o bloco, de viés expansionista, coordenado pelos militares, com influência relativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, com reformas retomadas após o ápice da crise, porém sob bases heterodoxas e desidratadas das versões originalmente pensadas. Atualmente, militares e o bloco resistem a chefiar prolongadamente a Saúde por motivos semelhantes. Respectivamente, não querem ser responsabilizados pela situação, preferindo imagem de interventores pontuais, e, idem, mas pela máxima discrição e mínimo desgaste na gestão de cargos e recursos do setor.

-- A idéia de que a presença das Forças Armadas no governo é ruim precisa ser atualizada. Será que não é bom profissionais com preparo técnico reconhecido, vide os disputadíssimos institutos de estudos e pesquisas delas, ocupando vasto espaço nos escalões governamentais em meio a uma crise tripla - sanitária, econômica e política? Há responsáveis a quem apelar e cobrar. Uma medida imediata poderia ser abrir os hospitais militares para receberem as pessoas comuns acometidas pelo coronavírus para tratamento.

Time is politics.

*Leopoldo Vieira, paraense radicado em Brasília, 36 anos, é jornalista, analista político, especialista em Administração Pública e chefe-executivo da IdealPolitik, agência de análise e assessoria.