Em 2020, venceu o pragmatismo da política tradicional

Por Marina Silva*

As urnas nesse domingo apresentaram um retrato semelhante ao resultado eleitoral do primeiro turno. Como resposta aos extremos e ao discurso antipolítica do presidente Bolsonaro, venceu o pragmatismo da política tradicional contra a polarização das eleições gerais de 2018. O chamado Centrão saiu fortalecido, assim como os partidos mais alinhados ao centro tanto à direita como à esquerda do espectro político.

Não podemos ignorar o alto índice de pessoas que não compareceram pra votar. Em SP e no RJ, o número de eleitores não votantes superou o volume de votos dos candidatos eleitos. Embora o efeito da pandemia possa ter agravado essa ausência e distanciamento, a tensão e o desencantamento entre um sistema político esgarçado e o reconhecimento de uma representação efetiva persistem.

Esse cenário abre espaço para uma espécie de terceira geração de jovens lideranças políticas, nos diversos espectros ideológicos, que ganhou destaque nessas eleições, como Guilherme Boulos, Bruno Covas, Manuela Dávila, ACM Neto, que manteve com Bruno Reis a continuidade de sua gestão, João Campos, Goura Nataraj, Marina Helou, Áurea Carolina, Cinthia Ribeiro e Marília Arraes. Por outro lado, reforça algumas barreiras estruturais ainda muito arraigadas. Tivemos apenas uma prefeita eleita em todas as capitais do Brasil.

Com esse retrato eleitoral desenhado caberá aos democratas com uma visão generosa de país compreender a urgência de um esforço coletivo para superar a polarização tóxica, enfrentar nossas profundas injustiças sociais e apontar para um novo rumo de desenvolvimento do Brasil, ancorado na nossa condição de potência ambiental global.

Parabenizo todos nossos aliados nas figuras do prefeito eleito de Fortaleza, José Sarto, de Belém, Edmilson Rodrigues, e do Recife, João Campos. O que esperamos de todos os eleitos é que possam se colocar a serviço dos interesses da população, principalmente daqueles que mais necessitam de uma atuação efetiva dos seus governantes.

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* Marina Silva é professora de história. Senadora pelo Acre (1995-2011) e ex-ministra do Meio Ambiente