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Opinião

IdealPolitik - Demissão de Mandetta dirá se quem manda são os civis ou os militares

Por: Leopoldo Vieira, CEO da IdealPolitik

-- Brasília, 13 de abril = A despeito da guerra entre religar a economia "versus" esperar, a Covid-19 e cresce para além dos grupos de risco das comorbidades. Países que resistiram ao isolamento caminham para restrições mais severas; se proliferam os casos em que o coronavírs voltou a se manifestar, como a Coréia do Sul, ou aumentou depois de alguma redução, como a Itália. Vacinas, só em um ano ou mais.

-- Na economia, a análise especializada anuncia a volta do Estado para estabelecer o casamento entre as sociedades e seus sistemas políticos, conter a direita nacionalista e para atravessar a crise das crises: os danos psicológicos da pandemia sobre a atividade econômica.  A Organização Mundial de Saúde, OMS, anunciou o draft zero das condições para os governos suspenderem quarentenas : garantir que a transmissão está controlada; que o sistema de saúde é capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, e rastrear todos os infectados; elaborar plano contra a importação da Covid-19 após a primeira onda de contágio; e que a sociedade esteja completamente educada e engajada às novas normas. Nos países em que a democracia liberal ainda não foi capturada, como a Hungria, é a nova cartilha dos blocos formados pelas maiorias parlamentares, governos locais e Justiça, como aqui. Para atingir os critérios da OMS e se reabrir, só por medio de um "Estado de bem-estar social 4.0".

-- Famosos como avessos ao trabalho, regados a privilégios, ineficientes e corruptos, os partamentares, em Brasília, tem surpreendido a opinião pública, com melhora na aprovação do Congresso. É onde reside a liderança de fato do combate à Covid-19. Garantiram a renda básica emergencial de R$ 600 aos trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa - robusta, em relação à ideia original do Planalto e antídoto à luta de Bolsonaro pela reabertura econômica.

-- O efeito colateral do presidente da República demitir o ministro da Saúdel, Luiz Henrique Mandetta, após a afronta da entrevista deste ao Fantástico, da arquirrival Rede Globo, é aumentar a insegurança e ansiedade social, em uma cena em que está em desvantagem nas pesquisas, e gerar a vontade generalizada de remover a "pedra no caminho", da que falou o senador Renan Calheiros. Por enquanto, a Bolsonaro interessa manter o ministro para reduzir o desgaste pelo lado sanitário, enquanto estimula o estresse social com a economia fechada. O adiamento das eleições municipais depende um pouco desta equação.

-- Para quem crê que Bolsonaro está sob tutela das Forças Armadas, a nova crise entre ele e Mandetta será um teste para a tese. Diz-se, no Plenário Virtual do Congresso, que os militares acharam "molecagem" a entrevista ao Fantástico e reduziram apoio. Se Bolsonaro demitir ele, pode-se falar na alegada intervenção branca. Se não, apenas surfam no prestígio do ministro da Saúde, projetando a imagem de fiadores e mediadores, mas encurralados e temerosos de desmoralização. Se capitão provou que manda em general, com Mandetta os civis voltaram a mandar nos militares? Time is politics.

*Leopoldo Vieira, paraense radicado em Brasília, 36 anos, é jornalista, analista político, especialista em Administração Pública e chefe-executivo da IdealPolitik, agência de análise e assessoria.